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Lula sugere que juízes de Porto Alegre fizeram 'leitura dinâmica' de sentença de Moro

Ex-presidente participou de ato de apoio no Rio com representantes da área cultural; segundo petista, opositores 'querem transformar o Brasil no 'Caldeirão do Huck'

Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Diante de uma plateia de cerca de mil apoiadores, majoritariamente da área da cultura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu na noite desta terça-feira, 16, no Rio, que a Justiça Federal em Porto Alegre fez "leitura dinâmica" da sentença do juiz Sérgio Moro, que o condenou no processo do triplex do Guarujá (SP). 

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participam de ato no Rio com representantes da área cultural Foto: WILTON JÚNIOR/ESTADÃO

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"Não posso falar dos juízes de Porto Alegre, não conheço. Mas acho estranho que tenham dito que a sentença do Moro é irretocável, sem ler. Leram não-sei-quantas mil páginas em poucos dias. Mas tem a leitura dinâmica", ironizou o ex-presidente, em evento “em defesa da democracia e de Lula” realizado no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, zona sul do Rio. Antes, na porta do teatro, foi realizado um pequeno mas ruidoso protesto que pedia “Lula na cadeia já”.

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Lula afirmou ainda que seus opositores "querem transformar o Brasil no Caldeirão do Huck", numa referência ao apresentador da TV Globo Luciano Huck, aventado como possível candidato à presidência, o que o próprio já descartou.

Réu da Lava Jato, o petista será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) no próximo dia 24, em Porto Alegre, no caso do triplex do Guarujá. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, o apartamento teve reforma paga pela empreiteira OAS, que recebeu em troca vantagens indevidas. O ex-presidente nega que o imóvel seja dele.

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Lula já foi sentenciado pelo juiz federal Sérgio Moro por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 9 anos e 6 meses de prisão neste processo. Caso seja condenado também na segunda instância, poderá ficar inelegível e concorrer à Presidência nas eleições de outubro, por conta da Lei da Ficha Limpa.

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No evento, o ex-presidente voltou a criticar Moro: "Juízes com o comportamento dele deveriam ser exonerados." 

Artistas. Acompanharam Lula no palco do Casa Grande a cantora Beth Carvalho, o humorista Gregorio Duvivier, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, os diretores de teatro Aderbal Freire-Filho e Amir Haddad e os atores Dira Paes, Chico Diaz, Herson Capri, Cristina Pereira, Bete Mendes, Antonio Pitanga e Osmar Prado, entre outros. Também esteve presente o coordenador do Movimento dos Sem Teto, Guilherme Boulos, cotado como possível opositor de Lula na corrida presidencial, numa chapa do PSOL. O compositor Chico Buarque ajudou na mobilização, mas não compareceu. 

Cristina Pereira foi hostilizada pelos manifestantes anti-Lula na chegada ao Casa Grande. Eram dez pessoas, que provocavam os apoiadores de Lula na calçada oposta à do teatro, gritando alto insultos a ele. O grupo pedia intervenção militar no País e trazia bandeiras nacionais. 

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Osmar Prado, que chegou pouco antes, os ignorou. “Quem tem medo de Luiz Inácio Lula da Silva? Os candidatos que não têm condições de derrotá-lo na urna. Em todas as pesquisas ele está na frente. Lula teve dois mandatos e diminuiu a distância entre a casa grande e a senzala. Isso fica gravado na memória do povo”, disse o ator. 

Gregorio Duvivier fez piada do protesto na porta do teatro. “Ficou muito claro que a indignação deles é classista, eles não saem de casa há um ano”, disse, sobre organizações como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre. “Fico muito feliz de ver tanta gente de vermelho no Leblon”, continuou, referindo-se ao fato de o ato ser no bairro mais caro do Rio. Também no palco, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que vem acompanhando Lula em atos públicos, foi saudado com gritos da plateia de “eô eô, Amorim governador (do Rio)”. 

Manifesto. Em dezembro do ano passado, um grupo de artistas, intelectuais e representantes de movimentos sociais, integrado por Chico Buarque, os escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum e o teólogo Leonardo Boff, entre outros, publicaram um manifesto contra “a perseguição a Lula”, divulgado no Brasil e no exterior (foi traduzido para sete idiomas) e intitulado “Eleição sem Lula é fraude”. O texto pede garantia à sua candidatura.

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Este mês, diante da iminência do julgamento de Lula o TRF-4, dois possíveis candidatos à Presidência e seus adversários, Boulos e a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) saíram em defesa do direito do petista de concorrer. No encontro desta terça-feira, Boulos disse que compareceu por “estar do lado da democracia” e que irá a Porto Alegre para apoiar Lula no julgamento no TRF-4. “Contra (o presidente Michel) Temer tem prova de sobra, contra Lula o que tem é perseguição deslavada. Ninguém no Brasil pode admitir isso de forma natural. Para defender Lula não é precisa estar 100% sintonizado com seu partido, basta defender a Constituição Brasileira.”

Desde o ano passado, Lula se engajou em caravanas pelo Nordeste e o Sudeste do Brasil, nas quais discursou sobre seu desejo de voltar ao Planalto, exaltou conquistas de seus dois governos e se defendeu das acusações da Lava Jato. A última parada foi no Rio, por onde passou em dezembro. O petista falou a populares e apoiadores em comícios de lotação média.