Lula pede que líderes de partidos estrangeiros levem mensagem sobre 'golpe' no Brasil

Em evento com partidos de diversos países, ex-presidente afirmou que parlamento e imprensa querem o caos; aprovação do impeachment foi classificada como 'pelotão de fuzilamento' composto pelos mais repugnantes

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Por Elizabeth Lopes e Ricardo Galhardo
Atualização:
O ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva participoudeseminário departidos e organizações de todo o mundo em São Paulo Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

SÃO PAULO - Em seu primeiro pronunciamento público após a aprovação da admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff (PT) pelo plenário da Câmara dos Deputados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente o parlamento brasileiro, dizendo que, em conjunto com a grande imprensa, a Casa é comandada por uma quadrilha que tem o intuito de implantar a agenda do caos no País. "Peço que levem aos seus países a mensagem que a sociedade brasileira vai resistir ao golpe do impeachment", disse o ex-presidente nesta segunda, 25, a uma plateia composta por lideranças internacionais da Aliança Progressista, reunindo representantes da África, Ásia, América Latina, Oceania e Europa, entre elas o PRD do México, o Partido Democrático Italiano e o social democrata (SPD) alemão.

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Sem citar nominalmente o vice-presidente Michel Temer (PMDB), Lula disse que a Constituição brasileira está sendo "rasgada hipocritamente pelos que ostentam o título de constitucionalista", numa referência ao peemedebista ser advogado constitucionalista. E disse que o País vive "uma farsa que envergonha o mundo", pois Dilma não cometeu crime algum e "os corruptos e oportunistas no Congresso" votaram a favor de seu impeachment. Ele qualificou a votação na Câmara da seguinte forma: "Houve um pelotão de fuzilamento composto pelo que há de mais repugnante na política, o que ocorre hoje no Brasil é muito grave."

 Lula reiterou o que já havia dito o presidente nacional do PT, Rui Falcão, que seu partido irá lutar e não dar trégua a um eventual governo Michel Temer. "Nós do PT vamos resistir, vamos lutar porque com a democracia não se brinca. Se preparem porque se pensam que vão destruir o PT e a nossa motivação, é só olhar para as ruas e ver a diferença do nosso povo." E disse que a elite não aguenta mais ver o PT no poder e que o argumento que eles, a imprensa e a direita utilizam é o mesmo que fez Hitler e Mussolini crescerem. Lula previu tempos difíceis e de embate no País, com o processo de impeachment de Dilma em andamento.

Apesar do diagnóstico de que o impeachment é golpe, Lula reconheceu que o governo de sua afilhada política enfrenta problemas e críticas dentro do próprio PT. "Não quero que defendam a Dilma, seu governo tem problemas econômicos, conduções equivocadas que o PT discorda, mas se erro de governo e momento ruim da economia for pra levar presidente e primeiro-ministro a impeachment e a voto de desconfiança, ninguém dura dois anos no comando de um País."

Lula afirmou que está em jogo muito mais do que o mandato de Dilma. "É o voto de milhões de brasileiros, (oposição) quer interromper um processo histórico, o que está em risco é a melhoria de vida dos trabalhadores e dos mais humildes. No Brasil o processo democrático abriu espaço para os mais humildes, numa revolução pacífica, conquistada pelo voto popular", disse ele, destacando que em seu governo o PT tirou o País do vergonhoso mapa da fome, libertando as pessoas da pobreza, dobrando o salário mínimo e abrindo as universidades para os excluídos.

Para Lula, a sociedade brasileira irá reagir com vigor contra este golpe porque não aceita manipulação e nem a criminalização do PT. "O País é maior do que a mentira e a manipulação, o combate à corrupção e à impunidade é essencial à sociedade e ninguém fez mais do que o PT neste combate." E disse que "os golpistas querem voltar ao poder para barrar as investigações e trazer de volta o reino da impunidade que sempre os preservou". 

Segundo o petista, a gestão de seu partido no comando do País tornou mais justa e equilibrada a situação na América Latina. "Nossa região tornou-se menos vulnerável ao ódio e ao terrorismo." Ele avaliou que a crise internacional levoufalhas do governo que precisam ser corrigidas, mas disse que também é verdade que a oposição "derrotada nas urnas optou pela estratégia golpista para voltar ao poder." E emendou: "Enquanto governo se esforçava para equilibrar contas públicas, oposição trabalhou para nos sabotar."

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Ao falar do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o petista disse que ele está sendo motivado "pelo desejo claro de vingança" porque o Partido dos Trabalhadores não quis acobertá-lo no Conselho de Ética, onde sofre processo por ter mentido sobre contas no exterior. "Gesto claro de vingança onde se juntaram os perdedores das eleições e a marcha golpista se intensificou quando Dilma me chamou para integrar seu ministério, fizeram isso porque não se importam com o País, apenas com seu projeto de poder."

Evento. O discurso do ex-presidente durou cerca de 50 minutos, pouco menos da metade desse tempo foi um texto lido por Luiz Dulci, ex-ministro e diretor do Instituto Lula, em razão de Lula estar afônico, e a outra parte, um pouco mais longa, foi feita de improviso, onde o petista fez as suas mais duras críticas ao atual cenário onde o impeachment está em discussão no parlamento e no dia em que o Senado Federal define os membros da Comissão Especial que analisará o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Lula participou na manhã desta segunda-feira, 25, de seminário internacional da Aliança Progressista, com o tema "Democracia e Justiça Social", em um hotel da Capital, organizado pelo seu partido, o PT. Além de Lula e dirigentes petistas, o evento conta com a participação de líderes de organizações partidárias da África, Ásia, América Latina, Oceania e Europa, entre elas o PRD do México, o Partido Democrático Italiano e o social democrata (SPD) alemão.

Manifestantes pró-impeachment e a favor do governo Dilma Rousseff protestaram em frente ao hotel onde se realizou o evento. A Polícia Militar precisou intervir para separar os grupos de manifestantes.