Lula ironiza pastores evangélicos em palestra

Em tom de brincadeira, ex-presidente diz a sindicalistas que às vezes é preciso se inspirar na retórica dos religiosos quando não é possível atender reivindicações: 'Você está desempregado é o diabo, está doente é o diabo'

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Por Ricardo Galhardo e Carla Araujo
Atualização:

São Paulo - Enquanto o governo Dilma Rousseff e o PT tentam enfrentar a pauta conservadora defendida pela bancada religiosa no Congresso, que tem à frente o evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou em tom de brincadeira os métodos utilizados pelos pastores neopentecostais, em palestra a sindicalistas na noite dessa quarta-feira, 20, em um hotel no centro de São Paulo.

Lula, bem humorado, explicava aos sindicalistas que nas ocasiões em que não é possível atender às reivindicações da categoria a melhor saída é colocar a culpa no governo quando, sem motivos aparentes, passou a falar dos evangélicos. “Os pastores evangélicos jogam a culpa em cima do diabo. Acho fantástico isso. Você está desempregado é o diabo, está doente é o diabo, tomou um tombo é o diabo, roubaram o seu carro é o diabo”, disparou Lula, arrancando gargalhadas da plateia.

Lula em encontro com representantes de centrais sindicais e do MST Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

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Lula comparou a retórica dos pastores a um processo judicial nos moldes do mensalão, no qual ex-dirigentes petistas foram condenados por desvios de dinheiro público com base na teoria do domínio dos fatos, que responsabilizou lideranças como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu por atos de seus subordinados sob a argumentação de que ele tinha o controle da situação. “Eu acho legal (culpar o diabo) porque é direto. Não tem nem investigação. É direto. O culpado está ali. É a teoria do domínio do fato”, brincou Lula.

Diante da receptividade calorosa da plateia, que não parava de rir, ele brincou com a cobrança de dízimo nas Igrejas evangélicas. “E a solução também está ali. É Deus. Pague o seu dízimo que Jesus te salvará”, disse em tom eloquente, imitando uma pregação religiosa.

Por fim, o ex-presidente disse também em tom de galhofa que os dirigentes sindicais deveriam assimilar os métodos dos pastores.

“Vocês sindicalistas têm que aprender a fazer isso porque cobram mensalidade, cobram contribuição sindical e não resolvem (as demandas da categoria).”

Tensão. As brincadeiras de Lula ajudaram a aliviar o clima de pessimismo e tensão dos sindicalistas incomodados com os rumos do governo Dilma que participaram do Seminário Nacional de Estratégia promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf).

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Pouco antes da fala de Lula, o presidente da Contraf, Roberto Von Der Osten, o Betão, criticou as reduções de direitos trabalhistas que fazem parte do pacote de ajuste fiscal e o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, defendeu o fim do fator previdenciário, aprovado pelo Congresso contra a vontade de Dilma.

Lula pediu apoio dos sindicalistas ao governo. Segundo ele, é preciso acabar com o mau humor que toma conta do Brasil. “Nenhum país do mundo vai para a frente com a descrença e o mau humor que tem hoje no Brasil”, disse Lula, para quem as reclamações são exageradas. “Se eu não morri de fome até os cinco anos comendo calango no Nordeste não é agora, depois de velho, que uma crisesinha vai me derrubar”, completou o ex-presidente.

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