PUBLICIDADE

Lula diz que partidos indicaram ex-diretores da Petrobrás investigados

Em depoimento como ‘informante’ à Polícia Federal, petista afirma que sua base aliada foi responsável por escolhas na estatal

Por Fábio Fabrini e Andreza Matais
Atualização:
O ex-presidente Lula Foto: Dida Sampaio|Estadão

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em depoimento à Polícia Federal que os diretores da Petrobrás alvos da Operação Lava Jato não foram escolhidos por ele, mas pelos partidos políticos que apoiaram o seu governo. Na versão do petista, coube a ele apenas indicar formalmente os nomes ao Conselho de Administração da estatal, que os referendou. O ex-presidente foi ouvido na quarta-feira, 16, na condição de “informante”, em inquérito que apura suposta formação de quadrilha por políticos de PP, PT e PMDB para desviar recursos da companhia. 

PUBLICIDADE

Os investigadores questionaram o ex-presidente sobre o processo de indicação e nomeação dos executivos da Petrobrás e também a respeito de suas relações com o pecuarista José Carlos Bumlai. Atualmente preso em Curitiba, o empresário confessou ter tomado, em seu nome, empréstimo de R$ 12 milhões no banco Schahin para o caixa 2 do PT – o valor nunca foi pago. Lula confirmou ser amigo de Bumlai, mas disse desconhecer suas atividades. 

O relato sobre as declarações de Lula foi feito ao Estado por uma das pessoas que acompanharam o depoimento. A defesa do ex-presidente e a Polícia Federal não se pronunciaram sobre o conteúdo do depoimento. 

Ainda sobre as indicações para a Petrobrás, o ex-presidente afirmou que, como não havia na época suspeitas de corrupção envolvendo os nomes indicados pelos partidos, coube a ele indicá-los para o conselho da Petrobrás, o que seria um processo normal. A ele foi informado que eram funcionários de carreira da estatal. 

Em tese, as indicações para o alto escalão das estatais passam pelo crivo de órgãos de controle interno, como Agência Brasileira de Inteligência (Abin), aos quais cabe verificar se há histórico desabonador sobre o pleiteante. Lula afirmou que não tinha relação de intimidade com os diretores investigados. Contou que apenas José Eduardo Dutra (morto em outubro deste ano), que foi diretor-presidente de janeiro de 2003 a julho de 2005, foi uma escolha pessoal.  A Lava Jato revelou o envolvimento de ao menos quatro ex-diretores, nomeados no governo Lula, no esquema de corrupção e desvio de recursos instalado na Petrobrás. Nestor Cerveró e Jorge Zelada, que chefiaram a área Internacional, eram da cota do PMDB. Renato Duque, que comandava a Diretoria de Serviços, era indicado pelo PT. Paulo Roberto Costa, do Abastecimento, teve sustentação do PP e, mais tarde, do PMDB.  Conforme as investigações da Lava Jato, as maiores empreiteiras do País pagavam aos executivos, a título de propina, um porcentual sobre o valor dos contratos firmados com a Petrobrás. Os diretores repassavam o dinheiro aos partidos e aos políticos que os apadrinhavam. O ex-presidente também prestou depoimento na última quarta-feira sobre suposto envolvimento com o empresário italiano Valter Lavitola, operador de negócios do ex-primeiro ministro da Itália Silvio Berlusconi. Atualmente, ele cumpre pena em Nápoles após ser condenado por tentar extorquir Berlusconi em 5 milhões de euros.  O pedido foi feito pelo Ministério da Justiça da Itália e foi baseado numa carta enviada por Lavitola a Berlusconi em 13 de dezembro de 2011. Nela, o empresário afirmou ter contado com o apoio de Lula num de seus negócios no Brasil. Aos investigadores, Lula disse, segundo o relato de um dos presentes, que não conhece o empresário. Embora tenha aceitado prestar dois depoimentos nesta semana, o ex-presidente pediu para adiar uma outra oitiva sobre suposto esquema de "venda" de medidas provisórias em seu governo, investigado na Operação Zelotes. Um mandado de intimação foi emitido pela PF no último dia 3, mas a assessoria de Lula informou não ter sido notificada. O Estado apurou, contudo, que a oitiva foi adiada a pedido da defesa do ex-presidente. A nova data ainda não foi divulgada.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.