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Lula diz que apoiará candidatura de Dilma em 2014

Durante encontro com jornalistas, presidente avaliou que o momento em que ocorreu o acidente com o avião da TAM em Congonhas foi mais difícil de ser superado do que a crise do mensalão

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Por Leonencio Nossa
Atualização:

Apesar de afirmar que ainda é cedo para discutir sobre 2014, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta manhã que trabalha "com a ideia fixa de que a companheira Dilma (Rousseff) será outra vez candidata à Presidência da República", em 2014. "É justo, legítimo que o governante possa disputar um segundo mandato. A Dilma será minha candidata em 2014", disse Lula, ao ser questionado por jornalistas sobre se seria candidato nas próximas eleições presidenciais, durante café da manhã com repórteres que fazem a cobertura do Palácio do Planalto.

 

Segundo Lula, só existe uma hipótese na qual Dilma não seria candidata à reeleição: "ela não querer ser". "Para mim, é líquido e certo que ela vai querer ser candidata", completou. O presidente ainda disse que, agora, ele pretende descansar. "Estou querendo menos trabalho e mais descanso".

 

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Liberdade de imprensa

 

O presidente deixou escapar que ainda sente mágoas da oposição e da imprensa. Ele disse que vai precisar de tempo para escrever suas memórias. "Você não está preparado para fazer um livro no dia seguinte. Você está com mágoa. É preciso dar um tempo. Imagina se um marido e uma mulher no dia seguinte à separação resolvem escrever um livro? Vai ser um desastre. Você tem que deixar o ódio se assentar", disse.

 

Embora tenha usado palavras fortes, Lula fez esses comentários com o semblante tranquilo. Ele observou que Juscelino Kubitschek (1956-1960) foi bastante criticado. "Ele todo o santo dia era chamado de corrupto e ladrão. Depois de um tempo, reconheceram a importância dele".

 

Lula disse que pretende trabalhar na construção de um memorial que permita a todas as pessoas fazerem uma análise própria do que representaram seus oito anos de governo. "Eu pretendo fazer isso devagar. Nada apressado".

 

O petista avaliou que o momento em que ocorreu o acidente com o avião da TAM em Congonhas, em 2007, foi mais difícil de ser superado do que a crise do mensalão em 2005. Lula não se referia ao drama das famílias, mas às críticas recebidas pelo governo. Ele reclamou que o governo foi condenado à forca e à prisão perpétua e até hoje não recebeu desculpas de jornais e opositores. "Foi o momento mais difícil de peso nas costas. Mas na vida da gente não acontecem só coisas boas. Se tivesse de não lembrar de algo, foi esse dia", disse.

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"Do ponto de vista pessoal, (o acidente da TAM) foi maior. O outro (mensalão) estava no âmbito da política. Eu não esqueço nunca do editorial jogando cadáveres nas costas do governo. Se alguém daqui a cem anos escrever um livro sobre acidente de avião, vão achar que foi culpa do governo Lula", disse. O presidente também não comentou sobre a dimensão da pista do aeroporto de Congonhas que, segundo analistas, caso fosse maior, poderia ter evitado a tragédia.

 

Pela primeira vez, Lula fez uma conexão entre sua trajetória política com o movimento de resistência estudantil à época ditadura. "O Lula não surgiu do nada. Ele é o resultado de um processo que começou com a revolução dos estudantes nos anos 60, depois passou pela revolução dos sindicalistas nos anos 70 e até a teologia da libertação da igreja Católica", disse. "Quando analisarem a história, acho que os mais cuidadosos vão perceber que sou resultado de uma sociedade em efervescência". "Eu seria muito presunçoso se dissesse como gostaria de ser lembrado. Só sei que mudei a relação do Estado com a sociedade, com os movimentos sociais", completou.

 

O presidente defendeu uma regulação dos veículos de comunicação. Ele disse que a sua proposta não é uma forma de controle. "Acho que é necessária (a regulação). Espero que seja feito um debate. Quando você promete um debate, não está apoiando o que diz a extrema direita nem o que diz a extrema esquerda, mas um consenso", disse. "Eu não defendo o controle da mídia, mas a responsabilidade. A mídia tem de parar de achar que não pode ser criticada", disse.

 

Lula disse que o Brasil é o país de maior liberdade de imprensa. "No Brasil, exercemos a liberdade de imprensa mais que em qualquer país", completou. Ele também reclamou da cobertura da imprensa. "Esses dias li uma matéria em que a grande derrotada nas eleições foi a Dilma (Rousseff, presidente eleita) e os vitoriosos foram o (José) Serra e a Marina (Silva)", se queixou.

 

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FHC

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Durante o encontro, Lula não abandonou o hábito de dar alfinetadas no antecessor Fernando Henrique Cardoso. Questionado sobre se ele iria se reconciliar com o tucano, o presidente respondeu que é preciso analisar os números entre os dois governos. "Acho que é possível (a reconciliação). Sou um homem que não leva para casa as divergências. A relação de amizade continua a mesma. Mas é preciso entender que os tucanos são os principais adversários do governo e é normal que haja acirramento na relação". "E sempre tem a chatice dos números. Cada um que analise do jeito que quiser", disse de forma irônica.

 

Ele lembrou que, nas eleições de 1978, apoiou a candidatura de Fernando Henrique para o Senado por São Paulo. "Eu que o procurei para ser candidato ao Senado", disse. Lula ressaltou que é possível eles voltarem ser amigos. "Espero que a recíproca seja verdadeira", completou.

 

Economia

 

Lula garantiu que não dará palpite sobre a economia brasileira no próximo ano. Questionado sobre sua avaliação quanto ao controle da inflação no Brasil e sobre decisões recentes da China, que anunciou elevação de juros, pela segunda vez em dois meses, para combater a inflação, o presidente Lula comentou: "Está dentro da afirmação de que não posso dar palpite; 5,3 (previsão da inflação no Brasil) é um índice dentro da meta. A inflação me preocupa todo dia, toda hora porque ela corrói o poder aquisitivo do salário. A previsão de 2011 está dentro da meta".

 

Lula ainda completou dizendo que não vai se manifestar sobre aumento de juros, reafirmando que é a presidente eleita, Dilma Rousseff, quem terá que decidir sobre o assunto a partir de agora. "Em janeiro, o Copom vai se reunir e o presidente do Banco Central será outro. Eu não vou falar se é hora de subir ou não (os juros). A última vez que o Copom se reuniu no meu governo não aumentou (os juros)". Para o presidente, "a dosagem do remédio será dada pela autoridade monetária". De acordo com Lula, "a presidente Dilma conhece como ninguém (essa área) e o Brasil está seguro para enfrentar adversidades".

 

Sobre o salário mínimo, que ficou em R$ 540,00 no Orçamento de 2011 de acordo com recomendação do governo, Lula disse: "Se tiver de fazer alguma mudança, a presidente Dilma fará em janeiro".

 

Ao analisar a crise financeira internacional, o presidente destacou que o seu governo tomou medidas para aumentar o crédito no mercado, liberando o compulsório e permitindo mais financiamento de veículos. Ele observou que houve uma "intervenção forte" no Banco do Brasil e na Caixa para agilizar medidas para combater a crise. "Nós aqui levamos dez dias para resolver o problema de financiamento de veículos. O Obama levou sete meses para resolver o problema da General Motors", disse.

 

Lula elogiou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, pelas medidas tomadas: "Com eles, tivemos agilidade em resolver o problema".

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Descanso

 

O presidente ainda disse que, agora, ele pretende descansar. "Estou querendo menos trabalho e mais descanso". O encontro com os jornalistas começou às 9h30. Lula afirmou que não sentirá falta da piscina do Palácio da Alvorada e dos helicópteros da Presidência da República. Um repórter lembrou um comentário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que no final de 2002 afirmou que ia sentir saudades da piscina do palácio. "Usei pouco a piscina e tenho medo de helicóptero. Não vou sentir falta", disse Lula.

 

Na conversa com os jornalistas, Lula disse que o "seu apartamentosinho" de São Bernardo do Campo é mais aconchegante que os palácios de Brasília. Depois, o presidente disse que iria sentir falta das relações de amizade que fez no governo e, especialmente, durante as viagens e ainda afagou os jornalistas: "Por incrível que pareça, vou sentir falta de vocês. É saudade"

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