Líderes ligados a Cunha anunciam afastamento do PMDB do maior bloco da Câmara

Deputados de PP, PTB, PSC e PHS, que reúnem 82 deputados, rompem com peemedebistas como sinal de insatisfação com o líder Leonardo Picciani

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Por Erich Decat
Atualização:

BRASÍLIA - O afastamento do PMDB do maior bloco da Câmara foi anunciado nesta quarta-feira,7, por lideranças partidárias ligadas ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O novo bloco será formado pelas bancadas de PP, PTB, PSC, PHS - juntos, esses partidos permaneceram como maior bancada da Casa, com 82 deputados. A união do grupo com o PMDB foi costurada no início do ano para eleger Cunha presidente da Câmara. 

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"Fomos informados ontem que o PMDB ia sair do bloco e nós mantivemos o bloco com a mesma harmonia do começo da legislatura", afirmou o líder do PP, deputado Eduardo da Fonte (PE). Questionado sobre qual foi a alegação do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), para deixar o grupo, Eduardo da Fonte respondeu: "Fomos comunicados. Só isso". O deputado deve assumir inicialmente a liderança do novo bloco. 

O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), deixou nas entrelinhas, entretanto, o real motivo do isolamento do PMDB. "O PMDB decidiu sair do bloco. Entendemos a posição do deputado Picciani e seus deputados. Mas entendemos também que temos bancadas em que se precisa discutir, harmonizar. Precisam estar absolutamente sincronizadas em relação aos problemas de cada um dos parlamentares. Queremos respeito, queremos ter participação", ressaltou Arantes.

O discurso de que o PMDB tomou a iniciativa de deixar o grupo, segundo relatos, foi a "saída honrosa" que os líderes encontraram para não terem que anunciar uma "expulsão" de líder peemedebista.

Ministérios. Um dos principais motivos alegados nos bastidores para o rompimento com Picciani foi a condução da reforma ministerial em que os demais partidos do bloco não foram consultados a respeito das negociações entre a presidente Dilma Rousseff e o peemedebista. Das conversas com a petista, Picciani assegurou a prerrogativa de indicar os ministros de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (RJ), e da Saúde, Marcelo Castro (PI), que detém o maior orçamento da Esplanada. 

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani Foto: Gustavo Lima/ Ag. Câmara

Outro ponto de descontentamento do grupo foram os espaços cedidos à bancada do PDT, que semanas antes do anúncio da reforma administrativa havia anunciado o rompimento com o governo na Câmara. Apesar das queixas contra o Palácio do Planalto, o líder do partido, deputado André Figueiredo (CE), assumiu o comando do Ministério das Comunicações. 

A ação para encerrar a aliança, segundo integrantes do governo e lideranças partidárias, foi operada nos bastidores por Eduardo Cunha como forma de "estancar" a ascensão política de Picciani, ocorrida após a ampliação da presença do PMDB no primeiro escalão do governo.

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Na análise de governistas ouvidos pela reportagem, a manobra de Cunha busca inicialmente rachar o bloco para depois dividir a bancada do PMDB na Câmara, o que resultaria no enfraquecimento de Picciani. 

Dessa forma, o líder peemedebista também ficaria inviabilizado para disputar a Presidência da Câmara em uma possível dobradinha com o PT em 2017, quando Eduardo Cunha encerra o mandato no comando da Casa. Picciani também não teria força para substituir Cunha, como deseja o Palácio, numa eventual saída do presidente da Câmara em decorrência dos desdobramentos da Operação Lava Jato.

Recondução. Numa contraofensiva à ação de Cunha e lideranças partidárias que tentam isolá-lo, Leonardo Picciani iniciou nesta quarta-feira um corpo a corpo com parlamentares para tentar assegurar a sua recondução na liderança no próximo ano.

Aproveitando a presença de alguns integrantes da bancada na sessão do Congresso de hoje, Picciani abordou pessoalmente parlamentares informando que tentará permanecer na liderança, cargo que deve ocupar até o início do próximo ano.

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Segundo o Estadão acompanhou, primeiro, Picciani realizava uma conversa com deputado no plenário e, após deixar o local, surgiam com uma lista nas mãos os deputados Carlos Henrique Gaguim (PMDB-TO) e Washington Reis (PMDB-RJ).

"Ele foi me comunicar que é candidato à reeleição. Disse que tenho todo o respeito por ele, que temos que mantê-lo no cargo até o fim do mandato da liderança. E quando esse prazo se encerrar, diante das circunstâncias, discutir a questão", afirmou ao Estadão o deputado José Fogaça (PMDB-RS), um dos que foi abordado pessoalmente por Picciani. "Temos as assinaturas necessárias. Já temos pelo menos 40", afirmou Gaguim, referindo-se aos apoios já garantidos em favor de Picciani. 

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