Líderes da base não descartam interferência do Planalto para evitar racha na sucessão de Cunha

Apesar do posicionamento público de que não pode haver intervenção do Executivo no Legislativo, a sinalização da possibilidade de pelo menos 5 nomes disputarem o cargo é vista como elemento de risco à governabilidade de Temer

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Por Erich Decat
Atualização:

BRASÍLIA - Com a iminência de serem lançadas várias candidaturas para disputar um possível "mandato tampão" da presidência da Câmara, parte das lideranças da base aliada vê como única alternativa para se evitar um "racha irreversível" a participação da cúpula do Palácio do Planalto na escolha de um nome. 

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Apesar do posicionamento público de que não pode haver interferência do Executivo numa possível disputa no Legislativo, a sinalização de que poderá haver mais de cinco nomes na briga é vista por representantes da base aliada com um elemento que irá gerar instabilidade para a governabilidade do presidente em exercício, Michel Temer, na Casa.

"O presidente Temer precisa neste início conturbado de governo trabalhar pela união da base dele", afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF). Ele é um dos cotados para ser indicado para o comando da Câmara, caso o presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixe o cargo. 

"Não me preparei para isso, vejo neste momento perfis mais experientes para essa função", esquivou-se o deputado em conversa com o Estado, realizada no Salão Verde, diante da galeria dos presidentes da Câmara. "Olha ai na parede, a exceção do Severino Cavalcanti, todos os presidentes da Casa eram afinados com o presidente da República", ressaltou, sinalizando apoiar a participação do Palácio na escolha do sucessor de Cunha. 

Integrante do chamado centrão (composto por PSD, PR, PP e PTB), o líder do PR, Aelton Freitas (MG), vê como "natural" a interferência do Palácio na disputa pelo comando da Casa. "Eu acho que quando o Eduardo Cunha descer da cadeira, o Palácio entra. Até lá, o governo não vai interferir. Mas depois é natural que entre. Todo o Executivo quer ter um Legislativo ao lado, para a manutenção da governabilidade", considerou o deputado.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pode ter os dias contados como presidente da Câmara Foto: André Dusek|Estadão

O partido irá apoiar o nome do atual segundo vice-presidente da Câmara, Giacobo (PR-PR), em caso de eleições para a presidência da Casa. Outro deputado dentro da bancada que também demonstrou interesse na disputa é Milton Monte (SP). Uma reunião da Executiva Nacional do PR, prevista para esta sexta-feira, 24, deverá tratar sobre o tema. "Vou conversar com o Milton hoje, amanhã e depois. Não pode ter mais de um candidato, se não implode a bancada e a base", ressaltou Freitas. 

Outro que não enxerga como um problema a possibilidade de o governo entrar na disputa pelo comando da Câmara é o líder do PP, deputado Aguinaldo Ribeiro (PB). "O Palácio tem que entrar. Não pode ter vários candidatos. Temos que ter unidade, se não vamos ter problemas", considerou. 

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Próximo a Michel Temer, o líder do PMDB, deputado Baleia Rossi (SP), é um dos poucos a considerar que não deve haver, neste momento, uma participação direta do governo nas discussões sobre a sucessão de Cunha. "Acho que uma interferência do Palácio na Casa não é necessária. E não é momento", ressaltou. Ele, porém, adota o mesmo discurso de que é preciso encontrar um consenso na escolha do próximo presidente para que a disputa não gere problemas de governabilidade. "Acho que o mais importante, se houver essa disputa pela sucessão, é que ela ocorra de maneira harmoniosa. Acho que essa disputa não é boa para o parlamento. Precisamos garantir a estabilidade da Casa para que possamos votar os projetos que são importantes para o País", defendeu o peemedebista. 

Licença. Apesar de ser considerado como "fundamental" por parte dos líderes da base para a definição de um nome para um possível mandato tampão da presidência da Câmara, o Palácio do Planalto ainda tem se esquivado de tratar abertamente o tema. Interlocutores de Temer têm fugido das discussões enquanto Cunha permanece na cadeira. 

O tema sobre a sucessão do peemedebista foi colocado na reunião realizada na manhã da última terça-feira, 21, pelo líderes do chamado centrão e representantes do PSDB e DEM. Na ocasião, também estava presente o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Logo que o assunto foi colocado em pauta, Geddel interrompeu seus interlocutores, pediu licença e justificou que não gostaria de participar do debate. Antes de deixar o encontro com os parlamentares, realizado na liderança do governo da Câmara, Geddel deixou um CD com cada um dos lideres, em que constava um raio X da liberação das emendas realizadas até aqui.