Juízes da Lava Jato ganharam escolta

Edson Fachin, Marcelo Bretas e Sérgio Moro mudam rotina e têm segurança reforçada em meio ao avanço das investigações da operação

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Por Rafael Moraes Moura e Ricardo Brandt
Atualização:

BRASÍLIA - Os principais magistrados que analisam casos relacionados à operação Lava Jato vivem sob escoltas ou já relataram ter sido ameaçados. A operação, iniciada em 2014, descobriu desvios de milhões de reais dos cofres públicos e condenou e prendeu políticos e empresários por crimes de corrupção.  Levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), obtido pelo Estado, aponta que 6 em cada mil magistrados estão sob ameaça no Brasil.

Responsável pela Lava Jato no Rio, o juiz da 7.ª Vara Federal Marcelo Bretas vive sob proteção policial 24 horas por dia. O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, recebe proteção diária de agentes de segurança. O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), também ganhou reforço na segurança pessoal e para sua família depois de revelar, em março, que tem sofrido ameaças.

Relator da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin pediu reforço da segurança após relatar que seus familiares estavam recebendo ameaças Foto: ANDRE DUSEK/ESTADAO

Após o relato, presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, autorizou o aumento do número de agentes para escolta permanente de Fachin e encaminhou ofício para todos os colegas do Supremo sobre a necessidade de reforço na segurança. Segundo o Estado apurou, Fachin é o único ministro do STF que já pediu aumento na proteção pessoal. Procurado pela reportagem, ele não quis se pronunciar.

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Em entrevista ao Estado em março, Cármen disse que “a Justiça não se intimida” com tentativas de constrangimento. “Primeiro porque ela tem um papel constitucional a cumprir do qual ela não pode se subtrair. A prestação da Justiça significa exatamente atender a quem tem direito”, disse. “O que o juiz ameaçado precisa é de garantia para ter tranquilidade e cumprir as suas funções”, completou a ministra, ressaltando que decisões judiciais sempre trazem um “nível de insatisfação”.

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Com 20 anos de carreira, Marcelo Bretas viu a sua vida mudar há dois anos, quando passou a cuidar dos casos relacionados ao esquema de corrupção instalado na Petrobrás. “Eu não tenho liberdade, nem eu nem a minha família. É uma vida sem liberdade”, afirmou o juiz, depois de participar de evento em Brasília no último dia 7. “É um preço a pagar. A questão é isso: não é o ideal, mas agora vou até o fim. Já estou nisso, então vou continuar”, disse.

Responsável pelos casos da Lava Jato no Rio, o juiz federal Marcelo Bretas passou a receber proteção policial 24 horas por dia nos últimos dois anos Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

Se por um lado sente falta da liberdade, Bretas reconhece que vê com satisfação o reconhecimento das pessoas ao seu trabalho. “Não sou uma pessoa vaidosa, sou um servidor público e se as pessoas estão satisfeitas com o meu trabalho, eu tô realizado, tô feliz. É como ser empregado e o seu patrão está elogiando. Isso é o sonho de qualquer um que é trabalhador”, comentou. “Eu sou temente a Deus e tô fazendo meu trabalho certinho. Ninguém vai parar a Justiça”, completou o juiz.

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Mudança 

Autor das 134 ordens de prisões da Operação Lava Jato de Curitiba – entre elas as do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do empresário Marcelo Odebrecht –, Sérgio Moro manteve, até meados do segundo ano de operação – iniciada em 2014 –, o hábito de ir de bicicleta ao trabalho, almoçar no bandejão do prédio da Justiça Federal, esperar a carona da mulher na frente do Fórum ao final do expediente e passear no parque com a família.

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela 13ª Vara de Curitiba, que cuida de casos de corrupção na Petrobrás, é acompanhado por escolta armada Foto: Gabriela Biló/Estadão

De início, ele resistiu à escolta armada. Mas aos poucos teve que readaptar sua rotina, revivendo uma situação pela qual tinha passado há dez anos, quando condenou o traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e passou seis meses vivendo sob proteção de agentes federais e policiais civis.

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Em 2016, a Polícia Federal chegou a investigar ameaças feitas na internet, que pregavam atos de violência contra o Moro. O magistrado abandonou o carro e a bicicleta como meios de transporte e para ir ao trabalho e demais compromissos – que também sofreram alterações. Voltou a andar em carro blindado e acompanhado de escolta armada sempre que sai de sua residência – em um bairro residencial de classe média de Curitiba.

Nos últimos dois anos, procura evitar restaurantes cheios, idas ao shopping, encontros com amigos – a maior parte do meio jurídico, como outros juízes e advogados – e vive uma rotina que o leva de casa ao trabalho, com alguns intervalos para viagens – como a mais recente que fez aos EUA, para palestras e eventos. Sua escolta é formada por agentes de segurança judiciária da Justiça Federal do Paraná e da Polícia Federal – ambos cumprem o papel de “sombra armada” de Moro, que alega “questões de segurança” para não comentar sobre o assunto.

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