Johnson discutiu ajuda americana a golpe em marcha

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Por Wilson Tosta - O Estado de S.Paulo
Atualização:

RIO - Um memorando arquivado na LBJ Library dos EUA mostra que em 1.º de abril de 1964, quando a situação no Brasil ainda não se definira, o presidente americano Lyndon Johnson reuniu membros de seu staff diplomático, militar e de inteligência na Casa Branca para discutir ajuda aos golpistas . O documento, assinado por Desmond Fitzgerald, vice-diretor da CIA para Assuntos Especiais, afirma que partiu de brasileiros - chamados de "Paulistas" no texto - um pedido aos Estados Unidos para que auxiliassem logo as tropas sob controle dos conspiradores. Participaram do encontro, entre outros, os secretários de Estado, Dean Rusk, e de Defesa, Robert McNamara, e o diretor da CIA, John McCone, o que mostra a sua importância. Os americanos avaliaram que então as perspectivas eram mais favoráveis aos "insurgentes" do que na véspera.

 

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"O secretário Rusk disse que o embaixador (no Brasil) Lincoln Gordon não estava defendendo o apoio americano neste momento", afirma o documento. "Somente os Paulistas pediram tal ajuda e isso sem definição. O embaixador Gordon, com quem o secretário concordou, acredita que seria errado neste ponto dar a (o presidente João) Goulart um estandarte anti-ianque."

 

O documento dá indícios de que os EUA se preparavam para uma resistência prolongada de Jango, o que acabaria não acontecendo, e detalha os pontos de onde partiria a sustentação militar e logística aos golpistas brasileiros em sua ofensiva contra o governo constitucional. Na operação que passaria à história com o nome de Brother Sam, foram preparados deslocamentos de embarcações da área do Caribe e de aeronaves na costa leste dos Estados Unidos, e cogitou-se do uso de um petroleiro civil, da Noruega, para levar combustível às tropas rebeladas. O texto conta que McNamara deu detalhes sobre o estágio em que se encontrava a força-tarefa destinada a, no limite, sustentar o golpe então ainda em marcha.

 

"Zarpou esta manhã (1.º de abril de 1964) e estaria nas vizinhanças de Santos até 11 de abril. As armas e a munição estão agora sendo reunidas para embarque em Nova Jersey e o transporte aéreo levará 16 horas a partir do momento da decisão", diz o texto. "Quanto ao POL, o navio-tanque da Marinha mais próximo, desviou-se da área de Aruba, estaria no local em 10 ou 11 de abril. Há, no entanto, um petroleiro norueguês da Esso no Atlântico Sul, carregado com a necessária gasolina para veículos e aviação. Está destinado a Buenos Aires e deve chegar lá (Santos) em 5 ou 6 de abril."

 

O encontro, segundo o memorando, começou com um briefing sobre os últimos relatórios de inteligência sobre a situação brasileira. Um coronel identificado como King fez um relato da teleconferência ocorrida às 10h entre o Departamento de Estado e o embaixador Lincoln Gordon, um dos articuladores do apoio americano ao golpe, no Brasil. "As coisas pareceram estar mais favoráveis aos insurgentes do que estavam na noite anterior, particularmente em vista de indicações de que o general (Amaury) Kruel está deslocando tropas do 2º Exército para a divisa de São Paulo", diz o documento.

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