Janot vai pedir inquérito contra políticos

Com o fim da delação de doleiro, procurador-geral considera já haver elementos para Supremo autorizar investigação de parlamentares

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Por Beatriz Bulla
Atualização:
"No meu acordo, essa palavra perdão não existe", diz Procurador-Geral da República Foto: Ed Ferreira/Estadão

BRASÍLIA - Com o fim da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai começar a pedir as primeiras aberturas de inquérito ao Supremo Tribunal Federal contra autoridades investigadas na Operação Lava Jato. Para ele, já há elementos para apurar o envolvimento de políticos no esquema de corrupção na Petrobrás.
Janot afirmou há duas semanas que aguardaria o fim das delações que estavam em curso na Justiça do Paraná para daí pedir ao ministro do Supremo Teori Zavascki, relator do processo, a separação dos nomes envolvidos. Além de Youssef, o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa fez acordo de delação.
A intenção da Procuradoria-Geral é abrir inquérito no Supremo para investigar só os políticos com direito ao foro privilegiado. Os demais casos serão remetidos à Justiça de primeira instância. O juiz federal Sérgio Moro responde pelos autos, no Paraná, que apuram crimes que não envolvem os políticos com prerrogativa de foro.
Não está descartada a hipótese de se tornarem réus perante o Supremo empresários ou outras pessoas sem direito ao foro privilegiado, se ficar comprovado que tiverem ligação direta com algum crime envolvendo políticos. Ao comentar a divisão do processo, no início do mês, Janot disse que não se pode trabalhar com um “maxiprocesso”. “O que temos que fazer é, dentro do limite do possível, manter no Supremo aquilo que é do Supremo. Aquilo que não puder ser cindido em razão da prova, no limite fica também no STF”, afirmou na época. 
Antes de pedir abertura de inquérito contra algum político, Janot precisará analisar o conteúdo da delação de Youssef. Na terça-feira, o doleiro prestou em Curitiba seu último depoimento. Nas delações, Youssef e Costa relataram repasses para políticos como os senadores petistas Gleisi Hoffmann (PR) e Humberto Costa (PE) - ambos negam -, além de partidos como PP e PMDB. Também foi citado o nome do tucano Sérgio Guerra, que morreu em março.
Nas investigações da Lava Jato, a Polícia Federal interceptou diálogos entre Youssef e os deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA). Ambos respondem a processo de cassação na Câmara.
Negativas. Janot se manifestou recentemente no Supremo em processos relativos à Lava Jato. Nos recursos de Waldomiro Oliveira, dono de empresas usadas por Youssef, e de Murilo Barrios, do Grupo Sanko Sider, que questionam a competência da Justiça do Paraná para atuar no caso, o procurador-geral se manifestou contra a retirada do processo da primeira instância. O pedido de liminar para suspender as investigações, feito pelos executivos, já havia sido negado por Zavascki.
Em outro parecer, Janot se posicionou contra o pedido de Gleisi Hoffmann para ter acesso ao conteúdo das delações premiadas. Os casos tramitam em segredo de Justiça.

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