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Irã evita crítica e tentará atrair Dilma

Diplomata iraniano revela expectativa de que relação com não mude com novo governo e diz que Teerã vê Brasil como ‘parceiro de longo prazo’

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Por Jamil Chade e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

GENEBRA - Cada vez mais isolado, o governo do Irã não economizará esforços para manter o governo de Dilma Rousseff em sua lista de "parceiros" e põe o Brasil como uma de suas prioridades na ofensiva para não perder aliados. Pressionado por sanções econômicas e revelações de que seus vizinhos apoiariam um ataque contra Teerã, o Irã espera que a Presidência de Dilma não abandone o país e a política externa brasileira mantenha seu caráter de diálogo.

 

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"Nossa relação não era com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nossa relação tem um cunho estratégico com o Estado brasileiro", afirmou ao Estado o diretor do Departamento de Política do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Mohamed Najafi.

 

Indagado se a relação sofreria mudanças com a chegada do novo governo, Najafi apenas torceu para que isso não ocorra. "Vemos no Brasil um parceiro de longo prazo. O Brasil sabe de nosso potencial e temos a mesma percepção sobre o Brasil", disse.

 

No fim de semana, Dilma declarou em entrevista ao jornal americano The Washington Post que considerou um erro a decisão do Itamaraty de se abster em votação na ONU da resolução que censurava o regime iraniano por violações de direitos humanos, pedia o fim dos apedrejamentos, da perseguição a minorias e de ataques a jornalistas. A declaração de Dilma foi vista como um primeiro sinal de que a política externa brasileira poderia sofrer certas modificações. Há apenas uma semana, o chanceler Celso Amorim havia defendido a opção de abstenção do Brasil, alegando que ele não votava "nem para agradar à imprensa nem a certas ONGs".

 

Amorim não será mantido como chanceler. Seu provável sucessor, Antonio Patriota, em telegrama confidencial revelado pelo site WikiLeaks, manifestou desconfiança em relação a Teerã. Segundo ele, nunca se sabe quão sinceros são os iranianos.

 

Mas a opção da diplomacia de Teerã é a de minimizar as declarações e revelações, mantendo relação de proximidade e um canal aberto com Brasília. A política de evitar um confronto aberto com o Brasil tem motivos explícitos. O país já sofre quatro rodadas de sanções econômicas, tem seu setor bancário estrangulado e queda importante nos investimentos externos. Para completar, documentos do WikiLeaks revelam que Arábia Saudita e outros governos chegaram a pedir que americanos dessem uma "solução" ao Irã antes que Teerã tivesse uma arma nuclear.

 

Diante dessa situação, o país promete em 2011 concentrar esforços para manter as boas relações com a América Latina - que já é uma de suas maiores parceiras comerciais. Em 2009, o Irã importou de Brasil, Argentina e Equador mais de US$ 2,5 bilhões.

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A região é alvo também de projetos iranianos. São 19 obras financiadas na Nicarágua e 80 na Venezuela. Na Bolívia, os investimentos iranianos chegariam a US$ 1,5 bilhão, além de linhas de crédito ao Equador e Cuba.

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