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Ideli culpa FHC por derrota; Múcio acha que base perdeu para ela mesma

Enquanto líder vê ex-presidente como mentor dos tucanos, ministro diz que votos que faltaram foram os de aliados

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Por Eugênia Lopes , Tania Monteiro e BRASÍLIA
Atualização:

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), jogou ontem a culpa pela derrota do governo no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Já o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, acha que a derrota saiu da própria base. Para Ideli, Fernando Henrique foi "o mentor", "a voz corrente e visível" que levou a bancada do PSDB a votar em peso contra a prorrogação da CPMF. "A pergunta que não quer calar é: por que o Fernando Henrique Cardoso veio com tanta sede ao pote para fazer contrapeso aos governadores Aécio Neves e José Serra?", indagou a petista, referindo-se ao fato de que Serra, de São Paulo, e Aécio, de Minas, tentaram convencer a bancada tucana a votar favoravelmente à CPMF. Ideli acusou a oposição de votar contra a CPMF de olho na sucessão do presidente Lula. Ela argumentou que Lula tem todas as condições de eleger seu sucessor e por isso a oposição, e em especial o PSDB, quis acabar com o imposto, para "quebrar o ritmo" do governo. Múcio disse que o governo não insistirá na prorrogação da CPMF e que foi um erro subestimar a situação e deixar essa discussão chegar até o final do ano. "Os votos que faltaram nós considerávamos base aliada", lamentou. Por causa disso, na sua opinião, é preciso fazer uma reavaliação com o grupo político do governo no Congresso. O governo, segundo Múcio, quer entender o que ocorreu antes de tomar qualquer decisão, especialmente contra sete senadores aliados que votaram contra a CPMF. Ele negou a retirada imediata de cargos de seus afilhados, mas avisou que o governo vai saber diferenciar entre os que o ajudam e os que não. "Não é questão de perder o cargo. Precisamos saber quem é parceiro e quem não é parceiro. Quem quer ajudar a construir o País e quem não quer." Indagado se Fernando Henrique tinha influenciado a votação no Senado, o ministro respondeu: "Os líderes mais expressivos da oposição trabalharam para que ela fosse aprovada."Ele elogiou o esforço de Serra e Aécio. "Nos sentimos confortáveis, pois figuras expressivas do partido, que fazem oposição ao presidente, que têm perspectiva de poder, trabalharam para que a CPMF fosse aprovada. Fomos surpreendidos, mas Serra e Aécio trabalharam." O ministro ressaltou que Lula agora "tomará providências para que os mais necessitados não sintam os efeitos da decisão do Senado". Múcio disse que os vencedores são os sonegadores e as pessoas que não pensam nas próximas gerações e acham que "quanto pior melhor". "Aqueles que só pensam na próxima eleição, na sucessão e que torcem para que o presidente se saia mal e não acerte, a gente pode admitir que foram vencedores." Ideli previu que os empresários terão de pagar a conta com a perda de receita. "Todo mundo que é legal ou ilegal paga CPMF: paga o contrabandista, o traficante... Ao não ter mais R$ 40 bilhões vindos de todos os segmentos, vai ter de vir da economia formal. O empresariado vai ter de saber que vai sobrar para eles", disse, criticando o movimento feito por setores empresariais contra a CPMF. "Os empresários deram um tiro no pé." Ao culpar a oposição pela derrota do governo, Ideli argumentou que há um grupo de senadores que vota sistematicamente contra o Planalto. "Quem não votou da base aliada a favor do governo não posso nem considerar traição. São votos sistemáticos contra o governo ou de senadores recém-chegados a partidos da base." Ela disse que o projeto que regulamenta mais recursos para a saúde ficará parado no Senado. "Essa é uma das principais derrotas: acabou mais dinheiro para a Saúde." Para o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), o governo foi derrotado porque errou ao demorar em negociar com a oposição. "Mas a oposição priorizou a disputa política", ressalvou. Ele acha que as relações do governo com oposição estão esgarçadas, mas ainda há espaço para o diálogo. "A oposição está de olho em 2010 e isso teve mais peso na votação do que o diálogo." Opinião parecida tem o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO). "O governo demorou a chegar com proposta ao Senado. Acho que seria diferente se tivesse entrado em contato com a base e a oposição 60 dias antes."

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