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'História se encarregará de inocentar Dilma', diz Cardozo em discurso inflamado

Advogado de defesa da presidente afastada pediu que, caso ela seja condenada, que um futuro ministro da Justiça peça desculpas a ela, assim como ele pediu a famílias de vítimas da ditadura militar.

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Por Igor Gadelha , Rachel Gamarski , Isadora Peron e Álvaro Campos
Atualização:

BRASÍLIA - Em discurso inflamado em sessão do julgamento do impeachment no Senado nesta terça-feira, 30, o ex-ministro da Justiça e advogado de defesa da presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que a história se encarregará de inocentar a petista e que uma eventual cassação da petista, será uma pena de morte política. Cardozo pediu ainda a Deus que, se Dilma for condenada, um futuro ministro da Justiça peça desculpas a ela, assim como ele pediu a famílias de vítimas da ditadura militar.

“É uma execração que se faz a uma pessoa digna”, disse, pedindo que senadores votem pela justiça e pela democracia e não aceitem que Brasil viva um “golpe parlamentar”. “Se ela não estiver viva, que peçam desculpa a sua filha e netos”, afirmou.

José Eduardo Cardozo apresenta defesa de Dilma no Senado Foto: Cadu Gomes|EFE

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Se dirigindo aos senadores, Cardozo pediu ainda que, quiserem julgar a petista pelo conjunto da obra do governo, aceitem a proposta dela de convocar um plebiscito para a população brasileira escolher se querem novas eleições para presidente.

A defesa tem insistido que criaram pretextos jurídicos para tirar Dilma, “que abrangem 'conjunto da obra’”. Cardozo tentou sensibilizar parlamentares e afirmou que ela nunca tolerou irregularidades, “bastava cheirar suspeitas, que ia na jugular dos seus inimigos”. “Acusadores colocam 'conjunto da obra' no bancos dos réus e se prendem muito pouco na análise da acusação”, disse.

Chantagem. Cardozo rebateu a advogada de acusação, Janaina Paschoal, e reforçou a tese de que o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), além de chantagear Dilma, “disse que não aceitaria pedido contra contas de 2014 porque elas não tinham sido votados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), mas as de 2015 também não foram”. “Hoje golpes não se fazem com tanques ou armas, é destituição ilegítima de presidente”, afirmou Cardozo.

Cardozo acusou Cunha de ter autorizado a abertura do processo de impeachment como vingança pelo fato de Dilma não ter aceitado “parar” a Operação Lava Jato e pelo PT não ter votado contra seu processo de cassação. 

O advogado repetiu o discurso feito pela presidente afastada nessa segunda-feira, 29, e disse que o processo de afastamento da petista começou “no minuto seguinte” em que ela ganhou as eleições de 2014. “Foi no minuto seguinte que se anunciou o resultado eleitoral que se começou o ataque”, disse o advogado.

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Para ele, a presidente afastada está sendo acusada, porque “ousou ganhar uma eleição, afrontando interesses daqueles que queriam mudar o destino do País”. “Ela foi condenada porque não queria barrar investigações em curso”, acrescentou.

De acordo com Cardozo, a situação piorou quando o procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, divulgou, em março do ano passado, a primeira lista de políticos citados nas investigações da Operação Lava Jato. Na avaliação do advogado, esse fato “agravou” o mundo político brasileiro. “Começaram a pressionar. (...) Diziam que haveria uma sangria no mundo político”, afirmou.

Cardozo afirmou que Cunha, réu em pelo menos duas ações da Lava Jato, também passou a mandar recados. “O recado era: pare com a Lava Jato e demita seu ministro da Justiça (na época, o próprio Cardozo)”, afirmou. “Dilma, como sempre, se recusou”. Segundo o advogado, o “ultimato final” dado por Cunha foi: “ou a bancada do PT vota para encerrar o processo de cassação (do peemedebista) ou abro o impeachment”.

Em sua fala, Cardozo também recordou a história pessoal e política de Dilma. Segundo ele, essa é a terceira vez que a petista senta no banco dos réus. Para o advogado, as acusações que embasam o pedido de impeachment são tão confusas que a maior parte da população brasileira não sabe dizer quais são. “Talvez daqui a um tempo não se lembrarão mais das acusações contra ela”, disse.

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Mulher. Mais uma vez a defesa usa como argumento que Dilma está sofrendo o processo de impeachment por ser mulher. Para Cardozo, não podem enxovalhar a “honra de uma mulher”.

O advogado ressaltou que querem afastar uma mulher que incomodou as elites, inclusive ao não permitir que Lava Jato fosse obstada. “Se há uma pessoa absolutamente correta e íntegra no sistema político brasileiro é Dilma”, declarou. 

Citando nominalmente o líder do PSDB no Senado, Cassio Cunha Lima (SP), ele afirmou que é indigno o assassinato de reputação que se faz no Congresso. “Disseram que Dilma tomava remédios, afirmaram barbaridades, mas nunca demonstraram que desviou dinheiro”.

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O ex-ministro da Justiça do governo Dilma e ex-advogado-Geral da União, reiterou, mais uma vez, que o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, baixou decretos idênticos aos de Dilma, assim como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Emoção. Ao terminar a defesa, Cardozo não conseguiu segurar as lágrimas. Ele classificou de "muito injustas" as palavras da acusação, de que o afastamento da petista teria como objetivo o bem das gerações futuras.

"As palavras da acusação foram muito injustas. Para quem conhece a presidente Dilma, pedir a condenação para defender os seus netos, foi algo que me atingiu muito fortemente", disse.

Questionado sobre o motivo de estar tão emocionado, Cardozo respondeu que ele jamais vai perder a capacidade de se indignar diante das injustiças. "Aquele que perde a capacidade de se indigna diante da injustiça, perdeu a sua humanidade, por isso eu me emocionei."

Assim que acabou a sua explanação no plenário, Cardozo foi abraçado por senadores aliados. Parlamentares a favor do impeachment também o cumprimentaram. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aplaudiu efusivamente a sua fala.