Haddad defende nova agenda da esquerda para enfrentar onda atual de reformas

Ex-prefeito diz que, se grupo mantiver postura defensiva, risco é de ter um 2018 'deprimente'

Por Ricardo Galhardo
Atualização:

Em debate ao lado do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), acadêmicos e sindicalistas, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) disse que a agenda da esquerda está defasada para enfrentar a onda de reformas imposta pelas forças que assumiram o governo depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, só uma nova agenda, criativa e ousada, vai ser capaz de barrar os adversários nas eleições do ano que vem.

Marcelo Freixo, Tatiana Roque e Fernando Haddad, em evento do grupo Quero Prévias, em São Paulo Foto: Ding Musa/QueroPrevias

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“O risco que a gente tem é o de ter um 2018 deprimente. Já tivemos um 2013, 2014, 2015, 2016, 2017 deprimentes. Em 2018 tem que apresentar para o eleitorado uma coisa que faça sentido, que jogue para cima, que dialogue com a imaginação dos trabalhadores. As pessoas estão ansiosas por alguma coisa nova e não é um candidato novo, não é um cara. Isso só vai mexer com a imaginação (do eleitorado) se a gente não oferecer coisa melhor. Aí eles vão ficar muito bem”, disse Haddad.

O ex-prefeito participou na segunda-feira, 15, à noite do debate “Trabalho no Século XXI” promovido pelo Quero Prévias, grupo de intelectuais e integrantes de movimentos sociais que busca construir um programa conjunto a ser defendido por candidatos de esquerda nas próximas eleições.

“Eu entendo que a agenda clássica da classe trabalhadora tem que ser mantida, mas concordo com muitos que disseram que ao lado dessa agenda temos que ter outra, mais criativa, mais ambiciosa, mais audaciosa para não ficarmos nessa postura defensiva”, disse o ex-prefeito.

A necessidade de uma nova agenda e novas propostas para a esquerda, especialmente no campo das relações do trabalho, foi praticamente unânime entre os debatedores. Além de Haddad e Freixo, participaram a matemática Tatiana Roque, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Monique Prada, da Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Sexo (CUTS), e o sociólogo Ruy Braga , da Universidade de São Paulo (USP). A maioria da platéia era de militantes do PSOL.

Tatiana admitiu que a esquerda está atrasada no debate necessário sobre as relações do trabalho. “O projeto neoliberal colocou a discussão do jeito errado no lugar certo. Temos que colocar essa discussão do nosso jeito”, disse ela.

Freixo, que foi ao segundo turno na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro no ano passado, reforçou a necessidade de uma nova agenda de esquerda. “Nosso mundo não é mais pela lógica das indústrias, mas os partidos e os sindicatos ainda trabalham nessa lógica. Os partidos de esquerda não sabem o que é viver em um mundo urbano de serviços”, disse o deputado.

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Tanto ele quanto Haddad são vistos como potenciais candidatos à Presidência em 2018. Freixo pelo PSOL e Haddad pelo PT, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu em cinco processos, seja condenado em segunda instância.

Haddad encerrou o debate dizendo que o desafio da esquerda é voltar a fazer com que “os olhos brilhem” em suas bases eleitorais. 

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