Grupos do PT brigam por pastas ‘sociais’

Correntes disputam domínio de ministérios como o do Desenvolvimento Agrário

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Por Roldão Arruda
Atualização:

SÃO PAULO - Após definir os nomes dos titulares da maior parte dos ministérios mais ricos e refrear a ânsia do PMDB, a presidente eleita Dilma Rousseff deve se voltar nos próximos dias para um grupo de pastas que, embora pequeno e com poucos recursos, provoca alvoroço nas bases de apoio e nas correntes ideológicas que disputam espaço em seu partido, o PT. Um dos casos exemplares é o do Desenvolvimento Agrário.

 

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Por acertos internos do PT, a pasta é controlada pela corrente de esquerda Democracia Socialista. Por causa disso, após a passagem dos gaúchos Miguel Rossetto (2003-2006) e Guilherme Cassel pelo posto, há dois anos a corrente vinha preparando seu terceiro ministro. Seria o ex-secretário nacional do PT, Joaquim Soriano.

 

Como parte da preparação, ele desembarcou em 2008 no ministério com a tarefa de coordenar um de seus mais ambiciosos programas, o Territórios da Cidadania. Fez um bom trabalho e a sucessão parecia tranquila, até seu nome ser criticado em reuniões entre a equipe de transição e representantes de entidades diretamente interessadas na vida do ministério.

 

Afirmou-se, entre outras coisas, que o ex-secretário seria um burocrata de partido, sem poder político. E logo em seguida surgiu na mesa, com o apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a maior entidade de representação de pequenos agricultores do País, o nome do ex-governador e senador eleito Wellington Dias (PT).

 

Quem o defendeu disse que fez um bom governo no Piauí e tem cacife político para fortalecer a pasta. Também se afirmou que, após dois ministros originários do Rio Grande do Sul, teria chegado o momento do Nordeste, argumento que agradou governadores nordestinos que desejam mais espaço no governo.

 

Em meio a prós e contras que hoje envolvem pelo mais meia dúzia de nomes, ganhou corpo a ideia de se manter Cassel no cargo, ao mesmo tempo que apareciam mais nomes petistas. Na semana passada falava-se em Lucia Falcon, secretária de Planejamento do governo de Sergipe.

 

No caso do Desenvolvimento Agrário, o problema não acaba com a definição do ministro. Tão ou mais complicado é escolher o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), autarquia vinculada ao ministério cuja missão é levar adiante programas de reforma agrária. Atua com organizações historicamente ligadas ao PT e que costumam ser mobilizadas em momentos de crise política e eleições, como a Contag, o Movimento dos Sem-Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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O enredo sucessório também complica na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, criada em 2003 para atender a reivindicações de organizações do movimento negro, outro aliado petista. Uma das dúvidas na escolha do secretário, que tem status de ministro, é definir se irão predominar petistas e militantes de São Paulo ou do Rio.

 

Na gestão de Matilde Ribeiro (2003-2008), ligada ao PT de São Paulo, a secretaria foi tomada por paulistas. Seu sucessor, Edson Santos (2008-2010), do Rio, preferiu equipes cariocas.

 

Líder sindical

 

Se Dilma optar pela permanência do ministro tampão Eloi Ferreira de Araujo, que assumiu em março, privilegiará o Rio, de onde ele veio. É por isso que o movimento negro de São Paulo prefere o nome do deputado federal Vicentinho, que começou a carreira como líder sindical no ABC Paulista, tem influência na CUT e é bem visto pela militância negra.

 

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As diferentes correntes ideológicas e regionais do PT estão mobilizadas na disputa por cargos como esse. No caso da Igualdade Racial, os baianos levaram dois nomes para a equipe de transição. Um deles é o da secretária da Igualdade Racial no governo de Jacques Wagner, Luiza Barrios. Mais uma opção feminina para Dilma.

 

As disputas internas também envolvem a Secretaria das Mulheres. Por outro lado, há um esforço unificado e cada vez mais concentrado das diferentes correntes para que o Ministério das Cidades volte para o partido. Na avaliação de Renato Simões, secretário nacional de Movimentos Nacionais, esse ministério, criado em 2003, com Olívio Dutra, é um dos mais que agregam políticas e movimentos originários do próprio PT, envolvendo habitação, saneamento, esporte, lazer, saúde, transporte.

 

Catarinenses

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Na semana passada, ao bater o martelo a favor da senadora Ideli Salvatti (SC) para o ministério da Pesca, Dilma manteve o critério da divisão de poderes por região. Desde que surgiu, em 2003, a pasta é dominada por catarinenses.

 

No caso de Direitos Humanos, pasta que desperta atenção da esquerda e de movimentos de base, a escolha privilegiou a acomodação ideológica. A deputada federal Maria do Rosário (RS) integra o Movimento PT, segunda maior corrente do partido, da qual faz parte Arlindo Chinaglia, ex-presidente da Câmara.

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