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Grupo no PMDB avalia que operação reforça debate sobre rompimento com governo

Integrantes do partido acreditam que nova fase da Lava Jato, que fez buscas em endereços de nomes do partido, vai contribuir para acelerar decisão da Executiva Nacional de antecipar encontro que pode romper aliança com Dilma

Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Igor Gadelha , Carla Araujo e Eduardo Rodrigues
Atualização:

Atualizada às 16h45

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BRASÍLIA - Integrantes do PMDB ligados ao vice-presidente Michel Temer avaliaram, de forma reservada, que a nova fase da Operação Lava Jato, chamada Catilinárias, que cumpriu mandados de busca e apreensão nas residências e escritórios das principais lideranças do partido nesta terça-feira, 15, vai contribuir para acelerar a decisão da Executiva Nacional de antecipar a convenção nacional, prevista para março. No evento, o partido pode aprovar o desembarque da sigla do governo Dilma Rousseff. Nessa segunda-feira, 14, deputados anunciaram que pelo menos 10 dos 27 diretórios estaduais do PMDB já assinaram documento pedindo a antecipação da convenção, mais do que os 9 apoios mínimos necessários.

Peemedebistas afirmam que a operação também deve influenciar a decisão da Executiva, em reunião marcada para amanhã, sobre resolução impedindo a aprovação de filiações consideradas "oportunistas" pelas lideranças da sigla. A estratégia foi definida por Temer e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), durante reunião nessa segunda. O objetivo é barrar articulação da bancada do Rio, com apoio do Planalto, de tentar destituir o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Quintão (MG), e tentar restabelecer Leonardo Picciani (RJ) no posto. 

Em caráter reservado, esses nomes do PMDB avaliam que a operação "bota lenha na fogueira" na já conturbada relação entre o partido e o Palácio do Planalto. Alguns, inclusive, chegam a dizer que houve uma "ação orquestrada" pelo governo, com apoio do Ministério Público e da Polícia Federal, para "intimidar" a legenda, em meio ao processo de impeachment de Dilma. O processo foi deflagrado na semana retrasada por Cunha, um dos principais alvos da operação de busca e apreensão feita pela PF hoje pela manhã.

Temer. Michel Temer, que tinha agenda a ser cumprida no anexo do Planalto, às 11 horas, com o deputado Domingos Neto (PMDB-CE), cancelou o encontro, segundo a sua assessoria, por pedido do próprio parlamentar que não teria conseguido chegar a Brasília. Havia também a previsão de uma reunião com deputado Celso Russomanno (PRB), que também foi cancelada.

O vice-presidente acabou se reunindo com o ministro peemedebista Hélder Barbalho (Portos) e com o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO). Temer chegou a seu gabinete conversando ao celular e não falou com o jornalistas. Mais cedo, ele teve um encontro com o ex-ministro Eliseu Padilha (RN) no Palácio do Jaburu.

Padilha. Após a reunião, Padilha minimizou o impacto da Operação Catilinárias. Ele lembrou que as investigações já estavam em andamento. "O PMDB existe nas 27 unidades federativas, temos nomes sendo investigados, por enquanto só investigados", disse.

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O ex-ministro, que deixou o governo logo após a instauração do processo de impeachment contra a presidente Dilma, fez questão de ressaltar que a sigla não tem nenhum membro preso. "Tem muita gente presa, não tem ninguém preso no PMDB", disse.

Integrante da Executiva do PMDB, Padilha disse que tinha vindo falar com o "chefe" para ver o que fazer e preferiu não comentar a situação de Cunha. "Esse eu não sei", disse. O ex-ministro defendeu as investigações, disse que as instituições têm que cumprir o seu papel sem fazer distinção entre "a, b ou c".

Eduardo Braga. Uma das principais liderança do PMDB, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, avaliou que a série de buscas e apreensões feitas hoje pela Polícia Federal faz parte do processo democrático de direito. “É um momento delicado, mas tudo foi feito dentro da legalidade por meio de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ocorreu tudo dentro da lei”, limitou-se a comentar.

Planalto. O clima do Planalto com o PMDB, que já estava péssimo, ficou ainda pior com a nova fase da Operação da PF que promoveu busca e apreensão na casa de dois ministros e inúmeros aliados. Apesar de o Planalto não falar em afastar os ministros que tiveram suas residências como alvo da operação de busca e apreensão da PF, a situação é considerada delicada. 

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Por isso, já há quem defenda que a presidente repense se esses ministros devem mesmo permanecer nos cargos. O ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, é ligado a Cunha e o titular do Turismo, Henrique Alves, a Temer.

A Polícia Federal faz nesta terça-feira, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), operação de busca e apreensão na residência oficial da presidência da Câmara e endereços de Eduardo Cunha, em Brasília e  no Rio. O deputado é acusado por corrupção e lavagem de dinheiro pela Procuradoria-Geral da República, nas investigações da Lava Jato.

A operação da PF também tem como alvos, além de Pansera e Alves, os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), os deputados Aníbal Gomes (PMDB-CE) e Áureo Lídio (SD-RJ), o prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier (PMDB-RJ), o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto (aliado de Cunha e exonerado na semana passada pela presidente Dilma), Aldo Guedes – ex-sócio de Eduardo Campos -, Lúcio Bolonha Funaro – delator do Mensalão -, Altair Alves Pinto – emissário de propina de Cunha, segundo os investigadores – e o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado foram alvo de busca e apreensão./COLABOROU TÂNIA MONTEIRO

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