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Graça joga suspeitas sobre fala de ex-gerente

Ex-presidente da Petrobrás diz que não acredita que Barusco tenha agido sozinho na gestão FHC

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Daniel de Carvalho , Daiene Cardoso e Pedro Venceslau
Atualização:

Atualizado às 08h44 do dia 27/03/2015

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BRASÍLIA - Em sua quinta passagem pelo Congresso em menos de um ano, a ex-presidente da Petrobrás Graça Foster levou ontem para a CPI que investiga irregularidades na estatal a mesma estratégia do PT de vincular ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) o esquema de corrupção alvo da Operação Lava Jato. 

“Não consigo imaginar como pode ser verdadeira a fala do Barusco de que ele sozinho recebia propina (na época do governo FHC). Não consigo entender isso de forma alguma. Fico surpresa de saber que alguém pode ganhar alguma coisa no meio da estrutura sem ninguém de cima saber. Quando a gente vê o Barusco falando de si, a gente pensa que está em outro planeta”, disse. 

Ela se referia ao que disse à CPI no dia 10 de março o ex-gerente de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco, de que sua atuação no esquema em 1997, na gestão tucana, era “isolada” e que a propina foi “institucionalizada” a partir entre 2003 e 2004, início do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-gerente, que fez um acordo de delação premiada, acusou o PT de receber entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina oriunda de contratos da estatal. Segundo Barusco, os valores se referem à propina recebida a partir de contratos da companhia. 

Foram seis horas e 40 minutos de sabatina na Câmara. Em dado momento, Graça disse que sente “muita vergonha” dos colegas que participaram do esquema de corrupção flagrado pela Lava Jato. “Lógico que passo horas do meu dia pensando em tudo o que está acontecendo (investigação da Lava Jato) na Petrobrás. Eu entrei aqui nas outras CPIs, em audiências, com muito mais coragem do que entro hoje (ontem). Podiam ter todas as suspeitas, mas não tinham os fatos que estão aí. Eu tenho realmente um constrangimento muito grande por tudo isso, de olhar para vocês. Já passei por várias fases de sentimento. Eu tenho vergonha, muita vergonha”, concluiu. 

A ex-presidente da estatal chegou ao plenário 2 da Câmara às 10h20, escoltada por deputados petistas e acompanhada de, ao menos, quatro advogados, inclusive uma da Petrobrás. Os parlamentares Sibá Machado (AC), Maria do Rosário (RS), Afonso Florence (BA) e Valmir Prascidelli (SP) se revezaram em elogios e defenderam Graça Foster das críticas da oposição. 

‘Melhor do que eu’. Apesar da tentativa de blindagem, a ex-dirigente foi pressionada por deputados de oposição a dizer se gostava mais do PT ou da companhia. “A Petrobrás, mil vezes a Petrobrás”, respondeu. Em seguida fez uma autocrítica. “Certamente a Petrobrás merecia um gestor muito melhor do que eu. Não tenho a menor dúvida disso.” A ex-presidente negou que a perda de R$ 88,6 bilhões registrada no terceiro trimestre do ano passado seja referente à corrupção. “Esses R$ 88 bilhões representam o valor justo por conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não são o número da corrupção.” 

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A ex-presidente da Petrobrás, Graça Foster, durante audiência na CPI na Câmara Foto: ED FERREIRA/ESTADAO

Ela disse ser a Polícia Federal a responsável pela descoberta da corrupção na estatal. “Não tenho dúvida em relação ao bem que a Operação Lava Jato já vem causando à Petrobrás.” Graça destacou ter sido indicada pela presidente Dilma Rousseff tanto para a diretoria (Gás e Energia) quanto para a presidência da Petrobrás. Afirmou desconhecer os responsáveis pelas indicações de Nestor Cerveró, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ex-executivos investigados por envolvimento no esquema de desvios. Declarou nunca ter visto o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, acusado por Barusco de receber US$ 300 mil para a campanha presidencial de Dilma em 2010. 

Bastidores. Preocupada com o estado emocional da antiga funcionária de carreira da companhia, a presidente Dilma Rousseff agiu diretamente para evitar que a fragilidade da executiva fosse explorada na sessão e seu depoimento comprometesse o governo. A ida da ex-presidente da Petrobrás foi marcada em substituição à de Julio Faerman, representante da SBM Offshore no Brasil, que não foi localizado. Num primeiro momento, Graça informou que estava doente, mas, diante da exigência de apresentação de um atestado médico, ela recuou e confirmou sua vinda. Até a véspera do depoimento, Dilma tentou intervir para adiar a oitiva. 

Graça evitou chorar durante o depoimento, mas não pôde esconder os olhos marejados. Na saída, um esquema de segurança foi montado para que ela não fosse abordada por jornalistas. / COLABOROU BERNARDO CARAM 

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