Governo vai continuar a privatizar setor elétrico, diz FHC

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Por Agencia Estado
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O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou, nesta sexta-feira, em discurso durante a solenidade de inauguração oficial da 10ª turbina da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, em Rosana, oeste paulista, que o governo federal pretende continuar a investir no processo de privatização do setor de geração de energia. "Vamos continuar a privatizar. A privatização não é a causa da crise energética", afirmou Fernando Henrique. Ele ressaltou que 80% do setor de geração ainda é estatal e que o governo não tem recursos para garantir a expansão do segmento. "Toda a infra-estrutura foi feita com capital estatal. Aliás, capital do povo, via imposto. Não dá mais para pedir imposto ao povo. Qual de nós temos a audácia, hoje, de propor aumento de imposto? Eu não, porque acho que já está muito forte a carga tributária", afirmou Fernando Henrique. Crítica ao PT O alerta do presidente teve como alvo o PT e a proposta apresentada, no início da semana, de sobretaxar em 5% as contas de restaurantes, dentro do projeto "Fome Zero". A idéia foi defendida pelo presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. "Se não há dinheiro que se possa recolher do povo é preciso recolher de quem tem. É preciso que o Estado incentive quem tem dinheiro a investir e controle esses investimentos com as agências fiscalizadoras", disse Fernando Henrique. O presidente afirmou ainda que a prova de que o investimento externo está ajudando no avanço do setor energético é a transformação deste segmento. "Então, por que a crise? Por que o problema? É preciso reconhecer as coisas como elas são", afirmou. Culpa é da estiagem e do uso "abusivo" Na avaliação de Fernando Henrique as causas da crise energética são a estiagem "extremada" e o "uso abusivo" dos reservatórios nos últimos anos. "Eu sou um mero sociólogo, não entendo de máquinas mas estou entre especialistas. Posso entender um pouquinho de sofrimento humano. E ai entra o povo e o seu sofrimento", disse Fernando Henrique, referindo-se ao apelo do governo para que a população consuma energia de forma racional. Segundo FHC, diante da crise energética só havia uma solução: apelar ao povo. "Ou cada um poupa espontaneamente ou não há força humana capaz de resolver a questão", disse Fernando Henrique, afirmando que os investimentos adicionais necessários levam tempo e, no momento, não há água nem gás suficiente para alimentar usinas hidrelétricas e termoelétricas. Fernando Henrique disse ainda que hoje a capacidade instalada de energia é de 75 mil megawatts, e o consumo máximo não ultrapassa a 50 mil megawatts. "Portanto, o problema é realmente de falta de água, e para repor o volume a população tem que entender e ser solidária", afirmou. Agradecimento do povo Ele agradeceu a compreensão do povo e elogiou a capacidade de colaboração que está levando à redução no consumo de energia. "Ao invés, simplesmente, de culpar A ou B - e geralmente A e B sou eu -, este povo decidiu que era melhor fazer com que o Brasil continuasse a crescer e está poupando energia, mais do que nós pedimos. Só tenho uma palavra a dizer, muito obrigado", disse Fernando Henrique. Ele agradeceu também a colaboração da mídia, que tem ajudado a informar sobre as medidas do governo, como ocorreu na ocasião da implantação da URV e na época da desvalorização do real. Segundo dados do governo federal, até os consumidores que gastam menos de 100 kilowatts estão economizando. "A cada semana que passa nos afastamos mais do apagão. Apagão não é a solução é apenas um susto para a população que não merece", afirmou Fernando Henrique. Crítica a Itamar Ele aproveitou este ponto do discurso para criticar o governador Itamar Franco (PMDB-MG), que se manifestou contra o programa de racionamento de energia do governo federal e contra a privatização do setor elétrico. "Ao invés do susto, se fez um apelo, e o povo entendeu. E mais: os governadores também. Sem criar uma ou outra exceção. No caso do Brasil, só um, o que é muito bom. De 27 governadores, só um não entendeu. É ótimo." Fernando Henrique disse que acabou de receber uma comissão de prefeitos, de vários partidos, todos querendo participar do programa de racionamento de energia criado pelo governo federal. "Nessa hora não há Partido, não governo ou oposição. Há povo, há Brasil, há consenso de responsabilidade. É isso que vai fazer vencer a crise de energia. Sem bazófia, sem antecipar o que não se sabe se vai ser possível ou não. Com muita seriedade, convicção e a confiança serene de que explicando o povo entende e, o povo entendendo e agindo, ninguém vai segurar o crescimento do Brasil, para o bem de todos os seus filhos. É isso o que eu quero agradecer aqui", encerrou Fernando Henrique Cardoso. Ele deixou o local acompanhado do governador Geraldo Alckmin, sem conceder entrevista. Também participaram da cerimônia os ministros Ramez Tebet (Integração Nacional) e Andrea Matarazzo (Comunicação da Presidência da República), o presidente da Aneel, José Mário Abdo, e os secretários estaduais Mauro Arce (Energia), Edson Vismona (Justiça) e Francisco Prado (Habitação).

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