Governo gaúcho condena ação da Polícia Federal que prendeu índios

Indígenas foram presos durante reunião com representantes do governo estadual, da Fundação Nacional do Índio (Funai) e agricultores para amenizar disputas em cidade do interior

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Por Redação
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O governo do Rio Grande do Sul chamou de "totalmente inadequada" a ação da Polícia Federal que prendeu, na sexta-feira (9), cinco índios durante uma reunião na cidade de  Faxinalzinho, no noroeste do Estado. O governo do petista Tarso Genro disse ainda esperar que o Ministério da Justiça "se responsabilize" pela retomada do diálogo com os indígenas.

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Na reunião, representantes do governo estadual, da Fundação Nacional do Índio (Funai), indígenas e agricultores discutiam ações para pacificar o clima entre os dois grupos. Em abril, dois produtores rurais foram mortos depois de furar um bloqueio feito pelos índios para reivindicar a demarcação de terras na região. São cerca de 2,7 mil hectares de terra em disputa entre 200 famílias de indígenas e 140 de agricultores.

Na sexta-feira, agentes da PF invadiram a reunião que ocorria na Câmara de Vereadores da cidade e prenderam cinco índios, entre eles o cacique Kandóia Deoclides de Paula. Eles são suspeitos de participar dos assassinatos. Um grande clima de tensão se instalou na cidade, que chegou a suspender aulas. No sábado (10) os índios chegaram a conclamar que tribos de todo Estado rumassem para a região, mas depois desencorajaram o ato.

Segundo a nota do governo, publicada no sábado e assinada pelo secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Elton Scapini, e pelo secretário de Gabinete do governador Tarso Genro, Ricardo Zamora, a ação pegou de surpresa os representantes do Executivo gaúcho.

"Durante a reunião fomos surpreendidos com a chegada ostensiva da Polícia Federal para o cumprimento dos mandados de prisão contra os indígenas, suspeitos da morte de dois agricultores. Não tínhamos qualquer informação de que tais mandados seriam cumpridos naquele momento. Pelo contrário, na reunião do dia 7 de maio, em Porto Alegre, com o Ministério da Justiça, manifestamos preocupação quanto ao momento e às condições do cumprimento dos mandados. Pedimos ao Ministério da Justiça que coordenasse a questão, de forma a não aumentar a tensão social já existente no município", relata o documento.

"Nada temos a opor quanto ao cumprimento dos mandados. No entanto, do ponto de vista da solução do problema, a ação, realizada durante a reunião, revelou-se totalmente inadequada, já que interrompeu um momento muito importante de diálogo e construção de propostas que pacificariam o município e garantiriam o direito das duas partes."

 Por fim, os secretários ressaltam que a demarcação de áreas indígenas é uma atribuição "exclusiva da União". "Portanto, esperamos que o Ministério da Justiça se responsabilize pela retomada do diálogo e a busca da solução do problema", avaliam.

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 Na semana que passou, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não cumpriu o prometido e deixou de visitar a região, gerando ainda mais tensão. Uma semana antes, ele disse em entrevistas que desembarcaria em Faxinalzinho para liderar uma audiência de pacificação entre índios e agricultores.

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