Gabrielli alivia papel de Dilma em Pasadena

Ex-presidente da Petrobrás ameniza cobrança sobre responsabilidade da presidente no caso

Por Eduardo Bresciani e Débora Alvares
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BRASÍLIA - Na primeira sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobrás exclusiva no Senado, marcada pelo boicote da oposição, o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli amenizou nesta terça-feira, 20, a responsabilidade da presidente Dilma Rousseff na compra da refinaria de Pasadena (EUA), em 2006. Blindado pelos governistas, Gabrielli afinou o discurso com as versões da cúpula da estatal e do Planalto."Não considero a presidente Dilma responsável pela compra de Pasadena. A decisão é da diretoria e do Conselho de Administração da Petrobrás. É um processo que não é individualizado, é coletivo", disse. Em entrevista ao Estado, em abril, Gabrielli afirmara que Dilma não poderia "fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho (de Administração da estatal)". O ex-presidente da Petrobrás foi ouvido durante pouco mais de três horas, sem participação de nenhum senador oposicionista. Relator da CPI, o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), leu em blocos uma lista com cerca de 200 perguntas a Gabrielli, sem confrontá-lo diretamente nenhuma vez. Dos outros governistas presentes, o ex-presidente da estatal ouviu questionamentos que acabavam sendo críticas à oposição, como a pergunta de Aníbal Diniz (PT-AC) sobre a quem interessaria desvalorizar a Petrobrás.Nesse ambiente governista, Gabrielli defendeu a compra de Pasadena, destacando que a refinaria adquirida por mais de US$ 1,2 bilhão, após disputa judicial que durou seis anos, registrou lucro em 2013 e que o prejuízo pode ser revertido pela estatal.Divergência. Apesar do clima amistoso, Gabrielli acabou divergindo novamente de Dilma ao minimizar a importância de duas cláusulas do contrato excluídas do resumo executivo que balizou a decisão do Conselho de Administração pela compra de Pasadena. Em março, a presidente afirmou ao Estado que não teria aprovado a negociação se soubesse das cláusulas Put Option (que obrigava a Petrobrás a comprar a totalidade da refinaria em caso de divergência com a sócia, a belga Astra Oil) e Marlim (que garantia rentabilidade mínima à parceira da estatal).Gabrielli classificou esses itens do contrato como "normais" e ressaltou que o posicionamento do conselho era sobre a visão estratégica do negócio, e não "detalhes". O ex-presidente acredita que o colegiado teria aprovado o negócio mesmo se as cláusulas tivessem sido informadas aos conselheiros."Eu acho que não seria rejeitado. Naquela época a questão não era a cláusula Marlim", disse. "Era ‘vale a pena expandir o refino no exterior? Ou vamos continuar apenas na Bolívia e na Argentina, como encontramos no governo anterior? Era isso que a gente ia continuar, sendo os EUA o maior mercado em crescimento?’ Essa era a discussão."Costa. Na saída, em rápida entrevista, Gabrielli disse que apoiaria novamente a compra no cenário de 2006. Ele disse que o ex-diretor Paulo Roberto Costa, que estava preso até esta segunda-feira, 19, não participou da compra da primeira parte da refinaria e só se envolveu com as fases posteriores do empreendimento.Aos senadores, Gabrielli defendeu a nomeação de seu primo, José Orlando Azevedo, para a presidência da Petrobrás América, responsável por Pasadena. Ele alegou que o parente é concursado desde 1978, foi indicado pela diretoria internacional e o fato foi comunicado à Companhia de Valores Mobiliários (CVM). "Não o nomeei diretamente. É a diretoria que indica. Não vejo problema de conflito ético. É um profissional de carreira e com competência reconhecida."Questionado sobre o aumento do custo da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, Gabrielli considerou "natural" a elevação de US$ 2,5 bilhões para os atuais US$ 18 bilhões. Segundo ele, a estimativa inicial não levava em conta peculiaridades da região de instalação, além de terem ocorrido variações no câmbio ao longo dos anos. / COLABORARAM RICARDO BRITO e NIVALDO SOUZA

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