Flávio Bolsonaro testa força no PSL-RJ e ameaça expulsar ‘governistas’

Orientação de Flávio Bolsonaro, presidente do partido no Estado, tem resistência; secretário diz que não vai renunciar

Por Caio Sartori
Atualização:

RIO – Após orientar a saída do PSL da base do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), o senador Flávio Bolsonaro, que preside a legenda no Estado, aumentou o tom. Em nota divulgada nesta quarta-feira, 18, o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro afirma que o partido estará na oposição e ameaça de expulsão os filiados que permanecerem em cargos na gestão estadual.

“Aqueles que quiserem permanecer devem pedir desfiliação partidária. Nossa oposição não será ao Estado do Rio, mas ao projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel”, afirmou o senador.

Flávio Bolsonaro presideo PSL no Rio de Janeiro Foto: Dida Sampaio / Estadão

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O anúncio do desembarque, feito na segunda-feira, se deu após o governador criticar o presidente da República, negar que tenha sido eleito na esteira do bolsonarismo e reafirmar que tem interesse em concorrer à Presidência da República em 2022 – Bolsonaro já anunciou que pretende tentar a reeleição.

O PSL, que tem a maior bancada da Assembleia Legislativa do Rio, com 12 deputados, ocupa cargos no Executivo estadual, incluindo duas secretarias – a de Ciência e Tecnologia, com Leonardo Rodrigues, e a de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência, liderada pela Major Fabiana. Até esta quarta-feira, ninguém havia renunciado – Rodrigues já disse que não o fará. 

A imposição de Flávio é um teste de força para o parlamentar como dirigente partidário. Alvo de investigação do Ministério Público do Rio desde o fim de 2018, na qual se apuram suspeitas de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no período em que era deputado estadual, Flávio Bolsonaro viu recentemente seu indicado para concorrer à prefeitura do Rio, o deputado fluminense Rodrigo Amorim, perder força dentro do partido.

Há um conflito interno que envolve, inclusive, discordâncias entre Flávio e o irmão Carlos Bolsonaro, vereador no Rio pelo PSC, que não apoia o nome de Amorim. O PSL ainda não definiu sua estratégia para a disputa pela prefeitura do Rio. O deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Hélio Negão, seria o candidato favorito de Jair Bolsonaro.

Ao participar de um evento no centro do Rio, Witzel disse que o projeto de disputar o Planalto não é dele, mas de seu partido, o PSC. “Não é um projeto Wilson Witzel. Eu apenas sou presidente de honra do partido. O partido tem um projeto para o Brasil”, afirmou. 

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Em outro momento, Witzel fez um aceno ao senador. Ele agradeceu a Flávio pela articulação que garantiu a aprovação, no Senado, de um projeto de lei que prevê a distribuição a Estados e municípios de recursos obtidos pelo governo federal com leilões de blocos de exploração de petróleo. “Agradeço ao Flávio Bolsonaro por isso e por ter caminhado comigo durante as eleições”, disse. 

“Lá em Nova Iguaçu nós caminhamos juntos no calçadão, rumo à vitória. Agradeço todo o trabalho do senador. Queria dizer ao Flávio que meu projeto político é o mesmo dele: governar bem o Rio, juntamente ao Congresso Federal e ao Senado da República”, afirmou o governador.

Articulação em Brasília

Além da tentativa de se impor no âmbito estadual, Flávio tem atuado como um articulador político “tradicional” em Brasília, e seus posicionamentos causaram intrigas com a bancada do partido no Senado. 

A movimentação do parlamentar para evitar a instauração da CPI da Lava Toga -e, com isso, impedir um desgaste entre os Poderes - gerou insatisfação em senadores como Selma Arruda (MT), que avisou que vai para o Podemos, e Major Olímpio (SP), que permanece no PSL e chegou a sugerir que Flávio deixasse a legenda.

 “Nós que representamos a bandeira anticorrupção do presidente. Eu tentei convencê-la (Selma Arruda) a ficar e resistir conosco. Quem tem que cair fora do PSL é o Flávio, não ela. Gostaria que ele saísse hoje mesmo”, disse Olímpio à Coluna do Estadão/COLABOROU FÁBIO GRELLET

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