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'Fizemos um acidente: caiu, quebrou a cabeça'

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

Erasmo Dias, ex-secretário da Segurança Pública de São Paulo de 1974 a 1978, revelou detalhes de como ajudou a fraudar a perícia da chamada Chacina da Lapa, a morte de três integrantes do Comitê Central do PC do B, em dezembro de 1976. Fazia menos de um ano que o general Dilermando Gomes Monteiro assumira o comando do 2.º Exército em São Paulo. Tinha a ordem de evitar novas mortes no DOI, como a do jornalista Vladimir Herzog. Mas um dos presos do PC do B, João Baptista Franco Drummond, acabou morrendo no destacamento. Erasmo conta como fez para que ele "morresse" na Avenida 9 de Julho, simulando um atropelamento: "Quando o Dilermando veio, ele veio como salvador da Pátria. E o que o DOI-Codi fez: deu aquela cana. A melhor coisa em uma guerra é informação negativa. Querer criar uma informação positiva é a maior estupidez que pode existir, que é mostrar serviço. (...) Um dia disseram para mim: 'Vamos montar uma operação para desbaratar o PC do B'. O que aconteceu lá? Mataram o Pomar (foram mortos na ação Pedro Pomar e Ângelo Arroyo) e levaram o motorista (Drummond) para o DOI. Ele quis fugir do xadrez. Ele caiu de cabeça e morreu. E aí o Dilermando ligou pra mim: "Erasmo me dá um jeito aqui". (...) Então fizemos lá um acidente. Caiu, quebrou a cabeça. Pode ver lá no inquérito onde ele quebrou a cabeça. De fato, ele estava fugindo. Caiu, a cabeça não quebrou ainda, andou dez minutos e deu um traumatismo. Como é que se queria, naquela altura, que o cara não tinha morrido como os outros? Aí, d. Evaristo (o arcebispo d. Paulo Evaristo Arns) mete o pau em mim e elogia o Dilermando."

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