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FHC critica corte de despesas federais

Ex-presidente diz que bloqueio em gastos públicos demonstra que o País é mal governado

Por João Villaverde
Atualização:

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou neste sábado, 23, o corte de despesas federais anunciado pelo governo Dilma Rousseff. Para ele, o bloqueio de R$ 69,9 bilhões em gastos públicos, incluindo investimentos, demonstra que o País é mal governado. “A situação fiscal é de tal maneira difícil, e foi consequência de erros dos governos, que agora, com esse corte, o governo está pagando seus próprios pecados e vai ter que tomar medidas de contenção, como está tomando”, disse o ex-presidente, após participar de seminário em universidade particular de Brasília.

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O líder tucano fez questão de destacar que o corte do orçamento foi uma medida necessária, porém ingrata, para resolver a grave situação fiscal do País. “Qual é a critica que eu posso fazer? Não é à contenção. É que há uma espécie de operação sem anestesia. Quando você faz uma contenção fiscal você tem que explicar ao País o que vem depois, para quê você faz, qual a esperança, qual o horizonte. E agora nós só estamos vendo nuvem negra. Aí as pessoas ficam irritadas e não aceitam” disse Fernando Henrique aos jornalistas.

O corte de despesas aplicado por Dilma foi o maior realizado em orçamentos federais desde que o PT chegou ao poder, em 2003. Foram cortados R$ 25,7 bilhões em investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), onde estão incluídos quase R$ 7 bilhões em cortes no programa Minha Casa, Minha Vida. A retenção de despesas faz parte do duro ajuste fiscal conduzido pelo governo Dilma para recuperar a credibilidade fiscal. Em janeiro, o governo já tinha elevado impostos sobre combustíveis e sobre o crédito ao consumidor. Além disso, há duas medidas provisórias no Congresso Nacional que restringem a concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso Foto: Robson Fernandjes/Estadão

“A situação é muito grave no Brasil, o problema é que a responsabilidade é dos governos. Não era necessário que tivesse sido feito tanto gasto. O Brasil começou a gastar como se os gastos fossem ilimitados. Agora estão pagando a conta. E como foi esse próprio governo que mais errou é bom que seja ele também que tenha que tomar as medidas mais duras”, criticou FHC, após proferir uma palestra de quase duas horas a uma plateia de 200 estudantes.

Pedaladas. De acordo com FHC, a ação penal que seu partido, o PSDB, vai perpetrar na Procuradoria Geral da República (PGR) na próxima terça-feira contra o governo Dilma por conta das “pedaladas fiscais”, pode ter um encaminhamento positivo. “O que houve de pedalada fiscal é contra a lei de responsabilidade fiscal. Não tenha dúvida que é. E houve abundantemente e isso pode ser crime”, afirmou FHC.

No entanto, um processo de impeachment necessita de “provas cabais”, indicando, portanto, que elas ainda não surgiram. “Eu nunca vi que o PSDB como tal tivesse dito: 'eu sou pró-impeachment da presidente Dilma'. Houve tendência aqui, tendência ali”, disse FHC.

O ex-presidente foi aplaudido pelos alunos após pedir a união em torno de um projeto que permita ao País superar a crise política e econômica. Mas em seguida fez questão de ressaltar que não estava pedindo apoio ou adesão ao governo Dilma Rousseff. “Não vou aderir ao governo Dilma, cada um no seu canto”, disse o ex-presidente, que governou o Brasil de 1995 a 2002.

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“Não está claro se vamos pegar um caminho certo. Estou sentindo a falta de liderança, a falta de determinação para fazer alguma convergêcia. Quando falo disso, sou criticado porque estou querendo aderir ao governo da Dilma. Estou falando de convergência nacional. Pode ficar cada um no seu canto”, disse FHC.

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