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Família planeja enterro de filho de Zuzu Angel

Hildegard Angel, irmã de militante morto, diz que sonho da mãe está perto de ser cumprido a partir de revelações da comissão

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - A família de Stuart Angel, estudante assassinado por militares da Aeronáutica aos 25 anos, em 1971, já planeja realizar o desejo da matriarca, a estilista Zuzu Angel, morta em 1976, de enterrar os restos mortais do filho. Isso porque investigações da Comissão Nacional da Verdade levantaram suspeitas de que um crânio encontrado no Rio de Janeiro possa ser do ex-militante do grupo revolucionário MR-8. "É uma realização muito grande. São 43 anos esperando. Agora quero cumprir a meta da minha mãe, que era enterrá-lo. Nós já sabíamos que meu irmão tinha sido assassinado pelo regime. Stuart não é uma ficção. Ficção quem fez foram os militares, que transformaram em terroristas os aterrorizados", afirmou Hildegard Angel, uma das irmãs de Stuart, ontem, ao Estado.

Integrantes da Comissão Nacional da Verdade falam sobre caso de Stuart Angel, durante audiência no Rio Foto: Alex Silva/Futura Press - 09.06.2014

O capitão reformado Álvaro Moreira de Oliveira Filho revelou aos membros da comissão que o corpo de Stuart fora enterrado na cabeceira da pista da base da Aeronáutica de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. O crânio, quase completo, havia sido localizado em 1976 num terreno no centro do Rio, porque a terra da pista fora revolvida numa reforma e levada para o centro pela construtora responsável pelas duas obras. Este ano, com a investigação da comissão, a ossada foi identificada por peritos das universidades de São Paulo (USP) e de Northumbria, da Inglaterra, como sendo de Stuart, por meio de uma análise comparativa craniofacial. Mas só com o confronto com o DNA de Hildegard e Ana Cristina Angel, a irmã que mora na França, vai ser possível afirmar com 100% de garantia que se trata mesmo dele. Hildegard já fez sua coleta e foi até o interior francês para colher o material genético a irmã. "Estou convencida de que é dele. A imagem do crânio foi comparada com a de negativos de fotografias de Stuart, e se sabe que crânio é como impressão digital, não há dois iguais", disse Hildegard, que recebeu a confirmação preliminar em setembro, e desde então não se pronunciou publicamente sobre o caso porque a comissão lhe pediu discrição. O caso de Stuart é notório porque sua mãe, estilista influente e de reconhecimento internacional, jamais se calou: apelou a autoridades do Brasil e no exterior - ele tinha pai norte-americano e, por isso, dupla cidadania - por informações do paradeiro do filho, incomodando o regime. O jovem foi preso, espancado e torturado durante horas, e teve o corpo arrastado por um jipe pelo pátio da Base Aérea do Galeão, com a boca próxima ao cano de descarga, inalando gás tóxico. De lá foi levado para Santa Cruz, na zona oeste carioca. Outro lado. Satisfeita com o trabalho da comissão, concluído semana passada, e favorável à revisão da Lei da Anistia, ela não aceita o argumento de que as ações dos grupos de resistência deveriam ser investigadas também. "Os militares tinham o poder. Estupraram, torturaram, cometeram crimes imprescritíveis. Eles venceram a guerra e contaram a história da maneira que eles quiseram. Não existe outro lado."

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