Expedição flagra garimpo ilegal no rio Boia

Balsa e equipamentos são encontrados próximos ao rio e há indícios de que o local foi deixado recentemente

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Por Roberto Almeida
Atualização:

A expedição da Frente Etnoambiental Vale do Javari, realizada pela Funai em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista, encontrou nesta quinta-feira (11) uma balsa de garimpo quando navegava pelo rio Boia, afluente do rio Jutaí, a 405 quilômetros da cidade de Jutaí (AM). O garimpo no rio com uso de mercúrio é altamente tóxico e configura crime ambiental.

 

A balsa, com 15 metros de comprimento e casco de madeira, estava estacionada em um igarapé menos de um quilômetro do rio Boia. Não havia ninguém a bordo. Equipamentos estavam cobertos com lona e há indícios de que o local foi deixado recentemente, com mato cortado há menos de 24 horas. Suspeita-se que os garimpeiros tenham tentado esconder o equipamento ao perceber a presença da expedição.

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Ao menos quatro garimpeiros são necessários para fazê-la funcionar. Um mergulhador opera a bomba de sucção no fundo do rio, que retira o cascalho. Outros três permanecem na balsa, manejando nas esteiras o material retirado, até que o mercúrio é utilizado para separar o ouro dos detritos.

 

Os membros da Frente de Proteção Etnoambiental fotografaram a balsa e marcaram as coordenadas do local com ajuda de localizador via satélite. O chefe da expedição, Rieli Franciscato, já informou a localização exata do garimpo à Funai em Tabatinga (AM), e pediu intervenção da Polícia Federal e do Ibama.

A base mais próxima da PF, chamada Anzol, fica no rio Solimões, perto da cidade de São Paulo de Olivença (AM), distante ao menos mil quilômetros do local. O escritório local do Ibama fica em Tabatinga, 280 quilômetros mais acima, também às margens Solimões.

 

RELATOS Com a constatação da existência da balsa, a expedição confirmou relatos sobre o trabalho de garimpeiros na região do rio Boia. Quatro dias antes, em Jutaí, moradores alertaram a expedição, mas não souberam precisar o número de balsas ou de trabalhadores que seriam encontrados.

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Ribeirinhos também confirmaram a existência de garimpo no rio Boia, e acrescentaram que há pelo menos mais quatro balsas trabalhando no rio Jutaí, o principal da região. No entanto, a expedição não passará pela área e as informações ainda precisam de confirmação.

 

BOIA, UM RIO DESTRUÍDO

No trajeto de 405 quilômetros pelos rios Jutaí e Boia, percorridos em 41 horas pelo barco da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, o cenário de degradação foi aumentando à medida que a equipe avançava. Às margens, árvores cortadas e barrancos remexidos mostravam que o garimpo estava próximo. Duas lanchas em alta velocidade, sem identificação, riscaram os rios.

 

O principal indício apareceu dia 10 de dezembro, no final da tarde. Um enorme banco de areia com 300 metros de comprimento e devastação da floresta que “empurrou” a margem do rio Boia pelo menos 120 metros em direção da mata. Claro sinal de que a área havia sido revolvida por dragas, mudando drasticamente a paisagem e o leito do rio.

 

Imagens de satélite feitas ainda em 2008 pelo Inpe já mostravam o banco de areia, mas nunca havia sido feita uma verificação in loco para avaliar se o fenômeno era natural. Pelos sinais da mata e pela configuração do banco, restou confirmado pela expedição que a área foi garimpada.

 

O equipamento utilizado teria sido uma draga com braço mecânico, capaz de trabalhar por horas a fio, ao contrário das balsas operadas por mergulhadores no intuito de sugar o cascalho do fundo do rio. O estrago é permanente e a contaminação por mercúrio, incalculável.

 

As imagens por satélite mostram também que há diversos bancos de areia rio acima, em direação à sua nascente, com configurações semelhantes às encontradas pela equipe da Frente de Proteção Etnoambiental. Até mesmo em igarapés, as balsas teriam trabalhado e devastado a mata.

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A EXPEDIÇÃO

A expedição da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari partiu de Tabatinga no dia 1º de dezembro com 14 tripulantes, entre eles a reportagem do Estado. O objetivo é verificar a existência de vestígios de uma tribo desconhecida, não-contactada, nas proximidades do rio Boia, no sudoeste do Amazonas.

 

A bordo do barco Kukahã, a equipe passou pelas cidades de São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins, todas no rio Solimões. Em seguida, parou para reabastecimento na cidade de Jutaí, para subir o rio que leva o mesmo nome e partir em direção à área da tribo desconhecida.

 

A expedição deve entrar na floresta nesta sexta-feira (12) para verificar o principal indício da existência da tribo. Trata-se de uma grande clareira, observada em sobrevoo realizado pela Funai em julho deste ano.

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