Executivo confirma atuação de cartel na Petrobrás

Em depoimento à CPI, ex-vice-presidente da Camargo Corrêa Eduardo Hermelino Leite diz que relação com a estatal 'seria muito difícil' sem esquema de pagamentos

PUBLICIDADE

Por Daiene Cardoso
Atualização:

Brasília - Em depoimento à CPI da Petrobrás nesta terça-feira, 26, o ex-vice-presidente da Camargo Corrêa Eduardo Hermelino Leite, confirmou que havia encontros entre as empreiteiras e que o cartel lhe foi revelado por Dalton Avancini, ex-diretor-presidente da empresa. Leite foi preso na Operação Lava Jato e assinou acordo de delação premiada.

O cartel era formado por grandes construtoras num momento em que a Petrobrás era, em suas palavras, a grande contratante do País. "Mas não participei do evento (encontro do clube de empreiteiras)". De acordo com as investigações da Lava Jato, o cartel combinava contratos e pagava propinas a dirigentes da estatal e a agentes políticos.

Ex-vice-presidente da Camargo Correa, Eduardo Hermelino Leite Foto: Dida Sampaio/Estadão

PUBLICIDADE

Leite não mencionou todas as empresas ligadas ao cartel. O executivo contou que foi apresentado pelo empreiteiro João Auler ao doleiro Alberto Youssef dentro da Camargo Corrêa, situação em que ele estava acompanhado do ex-deputado José Janene (PP-PR). Eles haviam procurado a empreiteira para cobrar pactos e pagamento de propina. "Esses dois são agentes responsáveis pela áreas de Abastecimento", teria dito Auler a Leite. 

Ele disse que não conhecia o passado de crimes de Youssef e que ele se apresentou como empresário. "Youssef era uma pessoa extremamente inteligente", comentou. 

Propinas. Eduardo Hermelino Leite disse aos deputados que a relação da empreiteira com a estatal seria "muito difícil" se não houvesse o pagamento de propina a diretores. 

De acordo com ele, os ex-diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços) poderiam impor penalidades à construtora e não receber representantes da empresa para tratar das obras se os pagamentos não fossem feitos regularmente. Os repasses eram feitos de forma contínua. 

No depoimento, Leite disse que o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco deixou claro que a Diretoria de Serviços servia aos interesses do PT e que o ex-diretor Renato Duque era apadrinhado do partido, ao qual o esquema deveria prestar contas. Com a saída de Duque da Petrobrás, o ex-diretor o procurou para que sua consultoria fosse contratada de forma a manter a rotina de pagamento de propina.

Publicidade

Ele voltou a falar do encontro com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que queria recursos para o partido. Leite afirmou que a Camargo se recusou a pagar propina em forma de doação para campanha eleitoral. 

Ele confirmou que foram pagos R$ 110 milhões em propina entre 2007 e 2012."Os operadores faziam questão de nos alijar do contado com os políticos", disse.

O executivo disse que a falta de projetos básicos adequados levou a Petrobrás a fazer aditamentos contratuais, o que seria um dos fatores de prejuízo para a estatal. "Isso gera essa confusão que em algum momento será acertado através de aditivos", explicou.

Para ele, o Tribunal de Constas da União (TCU) tem um trabalho "inglório". "É muito difícil do TCU fazer o casamento do que é o contrato e do que é o empreendimento", afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.