Ex-gerente diz ter feito alerta sobre prejuízo em refinaria

Venina afirma que, em 2009, levou à diretoria da Petrobrás relato sobre ‘inviabilidade’ das obras de Abreu e Lima

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Por FERNANDA NUNES E VINICIUS NEDER
Atualização:

São Paulo - A diretoria da Petrobrás foi avisada pela funcionária Venina Velosa da Fonseca de que a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, era economicamente inviável. A afirmação foi feita por Venina em entrevista ao Broadcast, serviço de tempo real da Agência Estado. O projeto de Abreu e Lima começou orçado em US$ 2,5 bilhões e chegou a US$ 18,5 bilhões.

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“Com o andamento do projeto, ele se mostrou inviável. Isso foi tempestivamente informado para o diretor (de Abastecimento, Paulo Roberto Costa,) e (constou) nos documentos de aprovação (do projeto) para a diretoria”, disse Venina. Segundo ela, isso, ocorreu em 2009.

Na época, a hoje presidente da Petrobrás Graça Foster era diretora de Energia e Gás. Venina era subordinada a Costa. Naquele ano, conforme reportagem do jornal Valor Econômico publicada na semana retrasada, a ex-gerente enviou e-mails a Graça sobre problemas que havia detectado na estatal. Nesta segunda, disse que fez “um resumo do problema como um todo” ao tratar pessoalmente das irregularidades com Graça, informação dada em entrevista exibida no domingo pelo Fantástico, da TV Globo.

Em novembro de 2014, Venina foi afastada do cargo de chefia de um escritório da Petrobrás em Cingapura, sob a alegação de que burlou manuais de contratações e, com isso, contribuiu para gerar prejuízos à empresa. O caso está sendo avaliado por uma comissão interna, que ainda definirá se houve má-fé. Se esse for o veredito, ela poderá ser exonerada.

A ex-gerente nega as acusações. Além de argumentar que avisou à diretoria sobre os prejuízos que as contratações previstas pelo então diretor de Serviços, Renato Duque, causaria à petroleira, ela diz que compras não eram atribuição de sua gerência. Duque é investigado na Operação Lava Jato.

Venina Velosa garante ter contado aos diretores da Petrobrás sobre inconformidades Foto: Dida Sampaio/Estadão

“Eu não aprovo contratação, eu não assino contrato, eu não negocio contrato, não indico quem entra na licitação. Isso tudo é responsabilidade da área de Serviços”, afirmou.Conselho. A defesa da ex-gerente, feita pelo advogado Ubiratan Mattos, foi mais enfática em relação aos alertas feitos por Venina sobre Abreu e Lima. Em e-mail enviado à reportagem após a entrevista por telefone, ele ressalta que o projeto da refinaria e a informação de que era prejudicial à petroleira foi apresentada também ao Conselho de Administração da companhia, liderado na época pela então ministra Dilma Rousseff.

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“Venina encaminhou a proposição de aquisição (de equipamentos para a refinaria) por ordem do diretor Paulo Roberto, baseada em uma estratégia elaborada pela área de materiais e apresentada previamente à diretoria executiva e ao Conselho de Administração, em reunião da qual Dilma participou”, disse Mattos.

O advogado de Venina afirmou que poderá ir à Justiça para rebater acusações da Petrobrás contra a funcionária afastada, como a de que ela era próxima de Costa. “Isso é de uma baixeza sem tamanho.”

Venina negou qualquer proximidade pessoal com Costa e que passou a apontar problemas ao ver o código de ética da empresa ser burlado. “Enquanto o Paulo Roberto não demonstrou que estava ferindo esse código de ética, havia uma convergência nos processos. A partir do momento em que realmente tive evidência de que isso estava acontecendo, eu agi, eu reportei, fiz tudo o que poderia ter feito”, disse.

Até o momento, a Petrobrás não comentou as declarações de Venina.

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