Atualizado às 16h45
BRASÍLIA - Em mais de seis horas de depoimento à CPI da Petrobrás nesta terça-feira, 31, o ex-gerente-geral de Implementação de Empreendimentos para a refinaria Abreu e Lima (PE) Glauco Legatti negou ter recebido propina e se disse apunhalado pelas costas por seu "amigo pessoal", o empresário Shinko Nakandakari. "Não tenho medo de ser preso porque não tenho porque ser preso", afirmou.
"Não sou o técnico da propina", disse Legatti. "Não recebi nada do senhor Nakandakari. Não sei se ele se aproveitou da amizade que tinha comigo para obter vantagens junto à empresa (Petrobrás)", afirmou o engenheiro que ainda atua na Petrobrás, apesar de ter sido afastado da gerência-geral em novembro do ano passado. "Não recebi um centavo do senhor Shinko". Ele alegou também desconhecer pagamento de propina a partidos políticos. As negativas irritaram os deputados. "Colabore agora neste momento", esbravejou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS). Pressionado, admitiu apenas ter se encontrado com o empresário em hotéis no Rio.
A indignação de Legatti não convenceu os deputados, que o questionaram diversas vezes por que ele não processou, até o momento, o empresário que o acusa. Nakandakari disse em delação premiada ter pagado a Legatti R$ 400 mil em propinas durante um ano. À força-tarefa do Ministério Público Federal, o empresário disse ter oferecido propina "na cara e na coragem" para que Legatti aprovasse aditivos aos contratos das obras da refinaria.
Ao todo, foram assinados 396 aditivos, segundo o ex-gerente-geral. Legatti disse que 136 foram aditivos de valor dos contratos e que não cabia a ele aprová-los. O valor da refinaria, que começou a funcionar no ano passado, passou de US$ 2,4 bilhões para US$ 18,5 bilhões. Assim como fez em depoimento à CPI do Senado, no ano passado, o ex-gerente-geral negou superfaturamento na planta industrial.