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Ex-executivo relata propina de R$ 50 mi a Aécio no exterior

Delator diz que pagamento era para que ele defendesse interesses da empreiteira em obras de hidrelétricas; senador nega irregularidades

Por Fábio Fabrini e Isadora Peron
Atualização:

BRASÍLIA - Delatores da Odebrecht relataram à Procuradoria-Geral da República que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), recebeu no exterior R$ 50 milhões pagos como propina para que ele defendesse os interesses da empreiteira nas usinas hidrelétricas do Rio Madeira, Jirau e Santo Antônio. O caso está sendo investigado em um dos cinco inquéritos contra o tucano, autorizados pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) Foto: MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO

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O ex-executivo da empreiteira Henrique Valladares afirmou que o “cronograma de pagamento” feito a “Mineirinho”, codinome atribuído a Aécio, foi em parcelas que variavam de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. Ele disse que o roteiro para os repasses foi fornecido pelo ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, aliado do tucano e chamado por ele de “operador do PSDB”.

A maioria dos depósitos teria sido feita em uma conta em Cingapura controlada por Alexandre Accioly, empresário amigo de Aécio, que é dono da rede de academias Bodytech. Valladares contou que, no total, as propinas pagas a agentes públicos, referentes às usinas, somaram R$ 120 milhões.

O empresário Marcelo Odebrecht relatou que o valor foi acertado com Aécio em uma reunião no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador de Minas, em maio de 2008, quando o tucano ainda comandava o Estado. Pelo combinado, a Odebrecht teria que pagar R$ 30 milhões e a Andrade Gutierrez, R$ 20 milhões.

O objetivo dos pagamentos seria conseguir apoio de Aécio no relacionamento com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), controlada pelo governo de Minas. A estatal e a Odebrecht integraram o consórcio que venceu a licitação para as obras de Santo Antônio.

Marcelo disse que os “vultosos repasses financeiros” foram feitos ao senador e seus aliados porque Aécio “sempre teve forte influência na área de energia”.

Aécio foi citado por ao menos cinco colaboradores da Odebrecht como o autor de pedidos de propina e caixa 2, entre 2008 e 2014. Somados, os valores mencionados pelos colaboradores alcançam R$ 89,5 milhões. A PGR, embora sustente haver indícios suficientes de que o tucano se envolveu em corrupção, fraude a licitações e desvio de recursos públicos, ainda não tem clareza sobre a cifra total que teria sido paga a ele e a aliados.

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Conforme os delatores, os pagamentos supostamente solicitados por Aécio foram feitos também em espécie a intermediários. “A Odebrecht mantinha um histórico de relacionamento com o senador, pautado na oferta de valores em troca de benefícios ilícitos”, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas colaborações e nas provas apresentadas pelos depoentes.

Defesa. Em nota, o PSDB sustentou que “são totalmente falsas as acusações feitas pelo delator”. “O senador Aécio Neves não recebeu recursos ilícitos e aguarda a identificação das supostas contas citadas para desmascarar mais essa mentira.”

O partido afirmou que, “apesar de os delatores terem enfatizado que pretensas doações mencionadas ao senador não envolveram nenhum tipo de ato ilícito, contrapartidas, corrupção ou propina, o fato é que elas não existiram”.

“A afirmativa sobre a Cemig feita por Marcelo Odebrecht não faz sentido. A empresa Andrade Gutierrez se tornou sócia da Cemig apenas em agosto de 2010, após comprar a participação do BNDES, do governo federal, na empresa mineira. Nessa época, o senador Aécio Neves não era mais governador de Minas.” Sobre a soma dos valores citados pelos colaboradores, a assessoria de Aécio disse, em nota, que “não foi apresentada nenhuma prova que vincule o senador a nenhum ato ilícito”. 

Tenho os seguintes esclarecimentos a prestar diante de referência a meu nome em depoimento de ex-executivo da Odebrecht no âmbito da Operação Lava-Jato:

Também em nota enviada por sua assessoria, Accioly se defendeu:

"1. Não sou nem jamais fui titular de recursos de qualquer conta ou estrutura financeira em Cingapura.

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2. Nunca recebi depósito em favor de terceiros em conta alguma no Brasil ou no exterior. Minhas declarações de bens comprovam a licitude dos recursos que ingressaram em minhas contas e que são resultado unicamente de minhas atividades empresariais.

3. Meu êxito profissional é fruto de suor e trabalho. Ao longo de minha trajetória, sempre agi com ética e respeito a valores e princípios republicanos. É o que de mais valiosolegarei a meus filhos.

4. Vou ingressar com interpelação judicial e processo criminal contra o ex-executivo da Odebrecht e não descansarei até que tenha obtido a reparação devida."

O Estado não localizou Dimas Toledo até a conclusão desta edição.