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‘Eu não vou aceitar ser chantageada’, afirma Dilma

Presidente não se surpreendeu ao saber da decisão de Eduardo Cunha de acolher ação de impeachment

Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa , Tania Monteiro e BRASÍLIA
Atualização:
Presidente faz pronunciamento em resposta à decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de dar prosseguimento a processo de impeachment Foto: Eraldo Peres|AP

No momento em que soube da decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acolher a ação de impeachment contra ela, Dilma Rousseff não se surpreendeu. “C’est la vie”, afirmou. “Eu não vou aceitar ser chantageada.”

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Dilma foi avisada um pouco antes do anúncio de Cunha e se reuniu no Palácio do Planalto com os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), entre outros. Ficou decidido ali que ela precisaria fazer um “contraponto forte” ao presidente da Câmara, na linha da ética, mostrando que o deputado usa o cargo para se proteger e ameaçar o governo. O Planalto deve recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra o parecer de Cunha.

Cardozo foi um dos que ajudaram Dilma a redigir o pronunciamento, planejado sob medida para que ela não deixasse dúvidas de que é vítima de uma vingança. Depois do discurso, a presidente recebeu no Planalto o apoio de vários deputados e senadores da base aliada e também de outros ministros.

“Vamos trabalhar e conquistar politicamente a derrota do impeachment”, reagiu Dilma. Um dos presentes contou que, por mais estranho que possa parecer, a sensação dela, naquele momento, parecia ser de alívio. A presidente chegou a dizer que a aprovação da mudança da meta fiscal pelo Congresso, ontem, provava que o governo pode vencer os mais duros obstáculos.

Dilma falou com o vice Michel Temer (PMDB) apenas por telefone e recebeu uma ligação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também conversou com Wagner. Lula disse que o governo tinha condições de recompor sua base e derrubar o impeachment, reunindo 171 votos no plenário.

Nas fileiras do PMDB, porém, muitos estranharam o comportamento de Lula, que lavou as mãos e não enquadrou o PT.

Ao anunciar que votariam contra Cunha, os três deputados petistas no Conselho de Ética atenderam ao apelo do presidente da sigla, Rui Falcão, e à pressão de militantes, mas contrariaram o núcleo duro do Planalto. O governo já esperava, desde então, que Cunha aceitasse o pedido de afastamento de Dilma. Antes de declarar guerra, no entanto, ele avisou Temer.

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Na avaliação de auxiliares da presidente, o PMDB deu sinal verde para o impeachment e já se prepara para abandonar Dilma, desviando os holofotes da Lava Jato. Embora uma ala do governo ache que é melhor enfrentar logo o processo no plenário, o clima de incertezas faz com que a apreensão tome conta do Planalto. Foi um ano perdido para Dilma, que até agora não conseguiu governar.