‘Estou sendo usado para atingir o banco’, diz ex-vice do Banco do Brasil

Allan Simões Toledo alega ter sigilo quebrado em meio à disputa por poder e que depósitos se devem à venda de um imóvel

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Por Redação
Atualização:

"É uma guerra que não é minha, eu estou sendo usado como laranja para atingir a presidência do Banco do Brasil ou a presidência da Previ", afirma Allan Simões Toledo, ex-vice-presidente do BB, citado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por movimentação atípica.

 

Allan, de 44 anos, diz que vive dias de grande ansiedade e de indignação porque alguém, provavelmente dentro da própria instituição à qual serviu por 30 anos, quebrou seu sigilo.

 

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Ele diz que não tem nada a esconder e quer uma explicação para o envolvimento de seu nome em um capítulo ainda nebuloso do BB. "Nunca fiz política interna, nem para um lado, nem para outro", desabafa.

 

Relatório do Coaf mostra depósitos que somam R$ 953 mil em uma conta sua no BB. Para rechaçar a suspeita lançada sobre seu nome e sua conduta, ele se muniu de documentos oficiais. Os papéis explicam passo a passo a origem desse dinheiro - a venda de um sobrado na rua Cabo Verde, Vila Olímpia, de sua madrinha, Liu Mara Fosca Zerey, que praticamente o criou, uma vez que perdeu a mãe aos oito anos de idade.

 

Liu, aos 70 anos, sofre de câncer. Seu estado é grave. Em julho de 2010 ela decidiu pôr à venda aquele imóvel de três dormitórios, quintal com churrasqueira, quatro vagas na garagem, 8,10 metros de frente por 42,33 de fundos e área construída de 217 metros quadrados.

 

Por que o sr. foi demitido do Banco do Brasil?

Eu me desliguei em dezembro de 2011, atraído por uma sucessão de convites da iniciativa privada. Ainda cumpro quarentena de 4 meses. Minha saída foi em adesão ao Programa de Desligamento de Executivos em Transição, previsto no regulamento interno do banco. Meu plano era me desligar no dia 15 de janeiro, mas me solicitaram que saísse em 28 de dezembro.

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Quanto o sr. recebeu?

No ato da homologação da rescisão do contrato de trabalho recebi R$ 1,083 milhão a título de indenização. Levantei R$ 400 mil do FGTS. Hoje (na quarta-feira) recebi R$ 100 mil de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) relativos ao segundo semestre de 2011.

 

A que atribui o envolvimento de seu nome nesse episódio?

Eu não tenho nada a esconder. É uma guerra que não é minha, estou sendo usado como laranja para atingir a presidência do BB ou a presidência da Previ.

 

Fez inimigos em sua carreira?

Eu sempre fui fiel ao Banco do Brasil. Disputas políticas sempre existem, mas eu nunca entrei nelas. Foram 30 anos na instituição, minhas promoções sempre se deram por méritos profissionais. Ingressei no banco aos 14 anos como menor estagiário. Fiz administração de empresas, com pós-graduação em finanças.

 

Não suspeita de ninguém?

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Eu seria leviano se citasse alguém, é uma situação dolorosa. O que eu quero saber é quem violou e o motivo da violação da minha conta. Meu advogado, o criminalista José Roberto Batochio, vai tomar as providências necessárias. Batochio disse que a imprensa tem o dever de publicar aquilo que chega ao seu conhecimento. Não se pode admitir censura sob pena de comprometimento da democracia. Mas ele entende que houve mesmo uma quebra de sigilo e por isso eu o procurei.

 

Como chegou à vice presidência?

Posso assegurar que cheguei por mérito próprio. Sou profissional. Na gestão do presidente Dida (Aldemir Bendine) cheguei à vice-presidência de Atacado, Negócios Internacionais e Private Bank, cuidava das operações com grandes empresas, de todas as agências e de suas subsidiárias no exterior e também pelo relacionamento com os grandes clientes.

 

Relatório do Coaf o cita em movimentação atípica no montante de R$ 953 mil. Como explica esse valor?

Quando minha mãe adotiva começou a receber o dinheiro da venda da casa da Vila Olímpia, onde continua morando, ela resolveu transferi-lo para uma conta minha. Eu sempre tive uma conta no BB. Decidi abrir uma outra, especificamente para movimentar o dinheiro da venda da casa para custear as despesas com o tratamento de minha mãe adotiva. Comuniquei à gerente da agência (Paulista) sobre a abertura dessa nova conta e que ela seria destinada a movimentar o dinheiro da venda do imóvel. Eu não queria misturar o meu dinheiro com o de Liu Mara.

 

Como foi a venda da casa?

A Mantovani Negócios Imobiliários fez a avaliação e ela própria adquiriu a casa por R$ 1milhão, divididos em cinco parcelas de R$ 200 mil. A quitação foi concluída em maio de 2011. A casa ainda está em nome de Liu Mara por detalhes de averbações não formalizadas e por causa de mudanças no sobrenome dela. Liu foi casada, divorciada e ficou viúva. Casou novamente e ficou viúva outra vez. Ela continua na casa da Vila Olímpia porque o térreo é adaptado ao seu estado de saúde.

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Por que Liu Mara decidiu repassar o dinheiro da venda para uma conta sua?

Liu Mara é muito grata a mim, pelo carinho e amor que dediquei a ela a vida toda. Ela me nomeou e constituiu-me herdeiro universal em escritura pública de testamento em 1.º de junho de 2011 (7.º Tabelião de Notas de São Paulo). Antes, a 12 de agosto de 2010, subscreveu procuração em cartório conferindo-me amplos, gerais e ilimitados poderes para gerir e administrar todos os seus bens.

 

Qual é o seu patrimônio?

Tenho um apartamento em Santana, que vale R$ 800 mil, já quitado. Em agosto de 2011 comprei uma casa em Alphaville por R$ 1,35 milhão. Dei R$ 250 mil de sinal e financiei o restante pela Previ, pago R$ 10 mil por mês. Tenho dois carros, uma Captiva e um Fusion. E recebi em forma de doação um terço do apartamento de meu pai, com usufruto dele. Não tenho nenhuma pendência com a Receita.

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