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Esta Rede saiu do papel

Vice de Marina em 2010, empresário cria escola de política e defende alternância de poder, mas distancia-se da antiga aliada

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Por Pedro Venceslau
Atualização:
ELEICOES MARINA- 03/10/2010 - SAO PAULO - NACIONAL/ELEICOES - Coletiva de imprensa com a candidataa presidencia da republica Marina Silva do Partido Verde. Marina teve mais de 20 milhoes de votos - Marina com o candidato a vice, Guilherme Leal - FOTO LEONARDO SOARES/AE Foto: Leonardo Soares/Estadão

Aliados incondicionais e parceiros de chapa na eleição presidencial de 2010, o empresário Guilherme Leal, dono da fabricante de cosméticos Natura, e a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, pré-candidata do PSB a vice-presidente de Eduardo Campos, separaram seus projetos políticos. 

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Em vez de abraçar a causa da Rede Sustentabilidade - partido que Marina não conseguiu fundar a tempo de disputar a Presidência e que nesta eleição atua dentro do PSB -, Leal criou sua própria organização: a Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade (Raps). 

Apesar dos nomes parecidos, as propostas das duas Redes são diferentes. E elas não caminharão juntas na campanha. "Continuo respeitando muito a Marina Silva. Entendo que a alternância de poder será positiva, mas não estarei na linha de frente desta vez", disse Leal ao Estado no intervalo do mais recente Encontro Raps, realizado em maio em um hotel de Indaiatuba (SP).

A ajuda financeira à chapa da antiga aliada - que há quatro anos elevou o empresário à condição de principal doador do projeto presidencial, com R$ 12 milhões dos R$ 24 milhões obtidos pela então candidata -, também não está garantida na atual disputa ao Planalto. "O tempo dirá", afirmou Leal, sobre possíveis aportes de recursos no projeto Campos-Marina.

Inspirado em uma organização argentina, a RAP (Rede de Ação Política), o projeto da Raps começou a ser gestado logo depois da eleição de 2010. A ideia era montar uma estrutura "transversal" aos partidos para garimpar lideranças e formar quadros políticos. 

Para os "marineiros" mais engajados, essa parecia ser a oportunidade perfeita para lançar o embrião de um partido político e começar a desenhar a estratégia da campanha de Marina em 2014. A ideia, porém, é rechaçada por Leal. "Marina buscou formar um partido. Partido é parte. Nossa abordagem é diferente", explica. 

Em vez de abraçar a causa da Rede, Leal criou sua própria organização: a Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade (RAPS). Foto: Rafael Bruner/Raps

 A reportagem do Estado foi a primeira a participar de uma reuniões dos chamados Líderes Raps. Durante quatro dias, um grupo de 70 pessoas, filiadas ou não a partidos políticos e selecionadas a dedo pela organização, ouviu palestras sobre planejamento de campanha, oratória, direito eleitoral e estratégias de atuação nas redes sociais.

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O processo de escolha pode ser comparado a um vestibular. "Em 2013 foram 401 inscritos. Temos um perfil desejado que leva em conta a diversidade de gênero, regional e o perfil ocupacional", explica Marcos Vinícius de Campos, ex-deputado pelo antigo PFL e diretor executivo da Raps. Ele conta que a meta em 2014 é formar 50 pessoas. "A ficha de inscrição tem uma pontuação e os candidatos passam por uma entrevista. É quase um vestibular." 

Na plateia, políticos de siglas diversas ouviam atentos conselhos de um especialista norte-americano de como se desvencilhar de perguntas difíceis em uma coletiva. Na sequência, um advogado especialista em direito eleitoral ensinou os líderes a não cometerem erros na hora de fazer a prestação de contas da campanha. 

"Com esse media training sobre oratória, eu evolui e corrigi erros. É fundamental, por exemplo, falar mais pausado e ter expressão", conta Edvaldo Nogueira. Político profissional há 33 anos, ele foi prefeito de Aracajú e disputará em 2014 uma vaga no Senado em Sergipe pelo PC do B.

Enquanto a Rede de Marina conta hoje com pouco mais de 4 mil militantes registrados, a de Leal é formada por 85 quadros políticos com potencial eleitoral, alguns já com mandato como o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e os deputados Alfredo Sirkis (PSB-RJ) e Antonio Reguffe (PDT-DF), entre outros. Apesar da separação, a atual sigla de Marina, o PSB, é o partido com o maior número de representantes nas Raps: 12. Com 10 filiados, o PV, antiga agremiação da ex-ministra, é o segundo no ranking. Também fazem parte da lista PSDB, PT, PPS, PSD, PSOL e PSL.

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A semelhança entre os nomes das duas redes é um tabu no grupo fundado por Leal. Reservadamente, dirigentes da Raps dizem que Marina "se inspirou" na sigla para batizar seu projeto de partido. O vereador paulistano marineiro Ricardo Young, hoje no PPS, refuta essa tese. "A imprensa adora fazer esse tipo de ilação. Mas garanto que não há relação."

A Raps pretende estabelecer critérios de atuação política para seus integrantes, independentemente do partido a que estejam filiados. Por ora, muito do discurso da organização tem forte sotaque marineiro, com a defesa de bandeiras embaladas pelo lema da "nova política". Apesar dos caminhos diferentes que Marina Silva e Guilherme Leal tomaram, há quem faça parte das duas Redes e, por que não, sonhe com um reencontro entre a ex-seringueira do Acre e o empresário paulista.

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