PUBLICIDADE

Entidades condenam tortura a jornalistas no Rio por milícia

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A entidade internacional de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem Fronteiras e outros grupos representantes de jornalistas no Rio de Janeiro manifestaram, nesta segunda-feira, indignação com o incidente em que uma equipe do jornal O Dia foi sequestrada e torturada por integrantes de uma milícia durante cobertura em uma favela da cidade. O jornal carioca denunciou que uma repórter, um fotógrafo, um motorista e além de um morador da favela Batan, na zona oeste, foram capturados no dia 14 de maio e submetidos a torturas durante sete horas cometidas por membros da milícia que controla a favela. A reportagem sobre o caso, publicada na edição de domingo, não informa o nome dos jornalistas e do motorista e nem identifica os torturadores. O envolvimento de policiais na tortura foi confirmado pelo secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, na noite de domingo. O secretário-geral da Repórteres Sem Fronteiras, Robert Ménard, enviou nesta segunda-feira carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ministro da Justiça, Tarso Genro, e ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), solicitando a criação de uma comissão de investigação com participação federal e estadual encarregada de "esclarecer e castigar as ações deste tipo de milícia". "Repórteres sem Fronteiras ficou perplexa ao saber que tais ações foram cometidos por agentes da ordem pública, supostamente encarregados de lutar contra a insegurança e o tráfico de drogas nos bairros mais problemáticos", disse Ménard, de acordo com cópia da carta publicada no site da ONG. A equipe do jornal viveu de forma clandestina na favela Batan por 14 dias com o objetivo de realizar uma reportagem sobre a atividade das milícias, antes de ser capturada e submetida a torturas com choques elétricos e asfixia com sacos plásticas. As milícias, formadas por policias e bombeiros da ativa e aposentados, ocupam cerca de 10 por cento das 600 favelas do Rio e oferecem suposta proteção em troca de pagamento. Em algumas comunidades, eles se firmam no controle da favela expulsando traficantes de drogas. O Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Rio e a Federação Nacional de Jornalistas criticaram os responsáveis pelo jornal O Dia por expor a vida de seus profissionais. Em comunicado conjunto, as entidades "protestam pela decisão da empresa de expor seus trabalhadores a tamanho risco. A técnica de infiltração é própria de policiais com instrumentos de alta tecnologia, após treinamentos intensivos. Não é tarefa para jornalistas." No exercício da Presidência da República, José Alencar condenou o episódio e exigiu investigação rigorosa. "Isso é um horror. É preciso que haja no Brasil uma investigação muito rigorosa porque o país é um país de primeiro mundo. Um país que não pode mais transigir por coisas desta natureza, que são coisas de terceiro mundo. A impunidade é o que encoraja os bandidos, se não houvesse impunidade os bandidos teriam menos coragem de praticar este tipo de coisa", disse a jornalistas no Palácio do Planalto. Também houve nesta tarde uma manifestação de repúdio ao sequestro e à tortura em frente à Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, centro do Rio. Apesar da confirmação do envolvimento de policiais no incidente, o secretário de Segurança afirmou que é cedo para efetuar prisões, afirmando que o grupo ainda precisa ser investigado. "Essas pessoas estão fazendo uso de sua posição pública para vender segurança", disse Beltrame. "Temos que fazer um acompanhamento, através de gravações, ou com uma quebra de sigilo telefônico, e juntar todo esse conjunto probatório para denunciar essas pessoas como milicianos, como bandidos", acrescentou o secretário. (Reportagem de Pedro Fonseca e Julio Villaverde; Edição de Carmen Munari)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.