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Empresário denuncia corrupção de militares na ditadura

Humberto Costa, que na época do regime atuava no ramo açucareiro, conta que teve contrato rescindido em favor de uma empresa ligada aos militares

Por THAISE CONSTANCIO
Atualização:

O empresário Humberto Costa Pinto prestou depoimento espontâneo à Comissão Nacional da Verdade (CNV) na tarde desta terça-feira, 29, para denunciar o suposto enriquecimento ilícito de militares e pessoas ligadas à ditadura militar brasileira. Ele contou que em 1982, sua empresa S.A. Costa Pinto, que atua no ramo açucareiro, teve o contrato com o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) rescindido unilateralmente. A empresa, que vendia açúcar para o IAA, foi substituída pela empresa Mapa, que era comandada por pessoas ligadas ao governo. De acordo com Costa Pinto, a rescisão do contrato foi possível por meio de "uma suposta dívida, que jamais existiu, combinada com o Banco de Comércio e Indústria de São Paulo (que não existe mais)". O banco "iniciou uma cobrança indevida, em conluio com a administração do IAA, com fim específico e claro de cancelar o contrato de quatro anos (conosco), já que no momento que o Instituto assinou o contrato com a Mapa, não havia condições físicas de atender aos dois contratos". O advogado José Neves Filho, que acompanhou o depoimento do empresário, ressaltou que o contrato com a Costa Pinto "era muito benéfico para a União e para o próprio IAA, mas o novo contrato, ao contrário, era maléfico para ambos", possuía "cláusulas altamente duvidosas", além de causar "prejuízos para a União". Na época, o IAA era controlado pelo coronel Confúcio Pamplona, que substituiu um especialista civil e, em seguida, mudou o contrato. A mudança foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e de um parecer da Procuradoria da República. "(A Costa Pinto) era uma empresa importante e com bastante credibilidade na época, que foi destruída em muito pouco tempo para beneficiar a empresa ligada a eles (militares)", desabafou o empresário. Para José Carlos Dias, um dos membros da CNV, o depoimento de Costa Pinto é relevante porque elimina "o mito de que os militares não tinham envolvimento econômico e interesse de enriquecer". Ele ressaltou que o empresário apresentou documentos e fatos que comprovam as irregularidades cometidas pela Mapa na venda de açúcar para o IAA. "Na venda se produz um modelo que sempre deixava dinheiro nas mãos de uma empresa controlada por gente que era ligada à comunidade de informações (dos militares)". "Eu devia (esse esclarecimento) à minha família, ao meu pai. Trinta anos depois tenho a oportunidade real e concreta de colocar as coisas como realmente aconteceram", disse Costa Pinto, emocionado.

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