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Em velório, filho defende ex-ministro acusado de ser torturador

Leônidas Pires Gonçalves, que morreu na quinta-feira, foi apontado pela Comissão da Verdade de ser um agente da repressão na ditadura militar

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Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

RIO - Autoridades civis e militares participaram na manhã deste sábado, 6, do velório do ex-ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, que morreu na quinta-feira, 4, aos 94 anos. Um dos filhos de Leônidas, Miguel Coelho Neto Pires Gonçalves, e o comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, fizeram referências indiretas ao fato de o ex-ministro ter sido citado em relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) como um dos agentes responsáveis direta ou indiretamente por torturas e mortes de opositores do regime militar. 

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"Lastimamos certas imposturas políticas e ideológicas que tentam transformar fatos inverídicos em verdades históricas. Tenho certeza que o tempo irá corrigir", disse Miguel em desagravo ao pai. O comandante do Exército, foi o primeiro a discursar."Os soldados do seu Exército não consentirão que a retidão de seu caráter e a transcendência de sua alma sejam maculados por versões históricas capciosas", afirmou. 

Em entrevista ao Estado, em dezembro do ano passado, Leônidas classificou como "hipocrisia" e injustiça" a inclusão de seu nome do relatório. O general chefiou o Estado- Maior do I Exército, entre 1974 e 1976, ao qual era subordinado o Centro de Operações de Defesa Interna (Codi). Ele sempre negou que tenha havido tortura no período em que o DOI-Codi estava sob sua responsabilidade. 

O velório, com honras militares, aconteceu no Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste, no centro do Rio. O ex-presidente José Sarney, de 85 anos, lembrou, em entrevista, a atuação decisiva de Leônidas na transição da ditadura para a democracia. Escolhido ministro, o general atuou para que Sarney tomasse posse quando o presidente eleito Tancredo Neves adoeceu, na véspera da posse, em 14 de março de 1985. "O general Leônidas teve uma função importantíssima. Articulou com a Marinha e a Aeronáutica um grupo de sustentação que pudesse assegurar a transição (...)Se não tivesse sido organizado o grupo dentro das Forças Armadas para assegurar a transição democrática, teríamos problemas. Não sei o que poderia acontecer", afirmou. Em discurso, Sarney lembrou a amizade de mais de 50 anos com o ex-ministro. "Morre com Leônidas Pires Gonçalves o último dos grandes chefes militares que participaram como protagonistas da História do Brasil nos últimos 50 anos", disse o ex-presidente. 

Também estiveram no velório o vice-governador do Rio de Janeiro Francisco Dornelles (PP), sobrinho de Tancredo Neves, e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva. A bandeira do Brasil que cobriu o caixão do general foi dobrada e entregue à viúva, Dóris. O corpo de Leônidas será cremado no início da tarde no Crematório São Francisco Xavier, no Caju (zona portuária), em cerimônia reservada à família e amigos próximos. 

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