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Em artigo no FT, analista diz que Lula 'arrisca legado' fomentando 'euforia' petroleira

Normal Gall, diretor-executivo do instituto Fernand Braudel, aponta coincidência entre eleições e grandes ambições da Petrobras.

Por BBC Brasil
Atualização:

Em artigo no influente diário britânico "Financial Times", o diretor-executivo do instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, Norman Gall, alerta para o risco de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "por em risco seu legado" por conta das polêmicas envolvendo as políticas de seu governo para o petróleo. Intitulado "Euforia com o petróleo põe em risco o legado de Lula", o texto encadeia argumentos críticos ao que o autor considera serem ambições de "escala demasiadamente grande e perfil demasiadamente alto" assumidas pela Petrobras em sintonia com os benefícios políticos para o governo. "Lula está usando a imagem do Brasil como potência petroleira emergente como uma arma política, invocando sentimentos de triunfalismo para ajudar a levar o PT à vitória (eleitoral)", escreve Norman Gall. Em outro trecho, o acadêmico afirma: "Da mesma forma que (na legenda) Ícaro viu suas asas de cera derreterem quando voou perto demais do sol, Lula está arriscando seu legado à medida que as polêmicas se multiplicam em relação às suas políticas petroleiras". Polêmicas Entre as controvérsias tratadas pelo artigo está o que o autor denomina uma "estranha política da descoberta", afirmando que a candidata do governo à Presidência, Dilma Rousseff, estava à frente do conselho de administração da Petrobras justamente quando o governo preparava o projeto do pré-sal, que dará mais poderes à estatal sobre as novas reservas. A outra questão, para o autor, é a segurança. "A explosão do poço Macondo, da BP, em abril, expôs as dificuldades de exploração petroleira em águas profundas", diz. Situadas a uma profundidade muito maior no Oceano - e bem mais distantes da costa que os poços da BP -, as reservas da Petrobras colocam para a empresa "desafios logísticos" de escala muito mais impressionante, argumenta Gall. O artigo lembra ainda que a legislaçãco do pré-sal coloca a estatal como operadora única dos campos de petróleo descobertos na área e que os ambiciosos planos da empresa vão requerer investimentos de US$ 224 bilhões no médio prazo. "As necessidades financeiras da companhia são tão grandes agora que fazem parecer pequena a capacidade de investimento do governo federal do Brasil, em um país que precisa desesperadamente gastar mais em infraestrutura e educação." Para Normal Gall, isso também deve "tirar recursos de outras prioridades", como a Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016, a hidrelétrica de Belo Monte e o trem-bala entre Rio e São Paulo. "Quando Lula chegou ao poder, em 2003, teve a sabedoria de reconhecer que os brasileiros não aceitariam um retorno à inflação crônica que impediu seu bem-estar durante décadas. Os críticos agora argumentam que o aumento no gasto público, junto com as polêmicas financeiras envolvendo as descobertas de petróleo, pode significar um infeliz retorno ao passado", escreveu. "Se o Brasil não endireitar suas prioridades, Lula pode descobrir em breve que sua reputação está afundando à mesma profundidade que as reservas de petróleo que tanto entusiasmaram seu país." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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