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Dívida de campanha gera atrito entre Haddad e PT

Mais de dois meses após o fim da eleição, prefeito ainda não conseguiu quitar todos os débitos; direção do partido alega problemas financeiros

Por Ricardo Galhardo
Atualização:

Uma dívida de campanha de R$ 9 milhões é motivo de atrito entre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o diretório nacional do PT. A divergência ocorre porque a legenda informou que não dará prioridade ao pagamento dos débitos da disputa na capital paulista.

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Na semana passada, em reunião com dirigentes do partido para tratar do assunto, Haddad foi “muito enfático” ao pedir ajuda para saldar o valor remanescente, segundo pessoas que participaram do encontro. Ele, no entanto, deixou a reunião com as mãos abanando.

O tesoureiro do PT, o ex-deputado Márcio Macedo, não quis se comprometer com Haddad. Ele tem dito que sua prioridade é manter a saúde financeira e o bom funcionamento da máquina partidária. Se a situação financeira do PT melhorar, o que é muito pouco provável em meio à crise que a sigla passa, a direção partidária deve ajudar não só Haddad, mas outros candidatos que deixaram dívidas da campanha municipal deste ano.

Aliados do prefeito argumentam que o posicionamento da cúpula petista colide com o discurso adotado pelo partido antes da disputa. Na época, o PT nacional chegou a aprovar resolução política dizendo claramente que a campanha de Haddad seria a prioridade absoluta do partido nas eleições municipais.

O prefeito tem se queixado a interlocutores por ter sido “abandonado” pelo PT depois de perder a eleição no primeiro turno para João Doria (PSDB). 

Em conversas reservadas, cardeais petistas usam palavras duras contra Haddad e dizem que o prefeito “nunca ajudou” o PT. Outro motivo de queixa de petistas em relação ao prefeito é a declaração feita por sua mãe, Norma Haddad, em ato na Avenida Paulista uma semana após o primeiro turno, quando ela disse que o filho não foi reeleito por causa da lealdade ao PT.

Na ocasião, apoiadores do prefeito organizaram um evento batizado de “Valeu, Haddad”, quando o prefeito foi recebido aos gritos de “uh, governador” pela multidão.

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Críticas. Haddad e o PT nunca tiveram uma relação tranquila, mas pessoas próximas ao prefeito notaram um tom acima do normal nas críticas que ele tem feito ao partido. 

O impeachment de Dilma Rousseff, a derrota nas eleições municipais e escândalos de corrupção tiveram impacto negativo nas contas do PT. Além de perder parte do “dízimo” pago por filiados que possuem cargos em administrações do partido, o PT teve três meses de repasse do Fundo Partidário suspensos pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes. A decisão se refere a irregularidades cometidas no pagamento de empréstimos feitos ao BMG, em 2009, depois do mensalão. 

Congresso. O partido vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ganhar tempo, mas a falta de dinheiro já causou o adiamento do 6.º Congresso Nacional do PT, marcado para abril de 2017. A legenda recebe R$ 7,9 milhões por mês do Fundo Partidário. 

Estes dados foram usados pela direção nacional do partido como argumentos na reunião com Haddad. Apesar disso, o prefeito ainda conta com ajuda da legenda para pagar a dívida. 

A campanha custou R$ 16,5 milhões, dos quais R$ 1,5 milhão foi repassado pelo partido. Falta pagar R$ 9 milhões. “Contamos com repasses mensais do PT nacional para pagarmos esta dívida”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), tesoureiro da campanha de Haddad. 

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