Dilma já admite defender nova eleição

Auxiliares da presidente dizem que só faltaria definir o melhor momento de assumir a estratégia; objetivo seria pressionar Michel Temer

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Por Vera Rosa
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BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff admite, nos bastidores, a possibilidade de defender a proposta de convocação de eleições presidenciais em outubro para encurtar seu mandato, mas o governo ainda avalia o melhor momento de assumir a estratégia. Ministros próximos a Dilma afirmam que isso já é “fato consumado” porque a presidente não terá governabilidade com o País dividido, mesmo se não sofrer impeachment no julgamento final do Senado.

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A ideia conta com o apoio da maioria do PT e até do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que há anos trava disputa com o vice-presidente Michel Temer sobre os rumos do PMDB. Até recentemente, Dilma resistia a aceitar a abreviação do seu mandato, mas, de acordo com auxiliares, começou a perceber que precisa fazer um gesto de “pacificação” nacional. Ela descarta a renúncia, mas acha que a proposta de novas eleições diretas também pode ser uma contraofensiva ao que chama de “golpe”.

Em conversas reservadas, ministros do PT argumentam que o plano, por si só, tem o condão de pôr Temer contra a parede. “Ele vai dizer que é contra a convocação de novas eleições diretas?”, perguntou um deles. Além disso, tudo será feito para atrair o PSDB do senador Aécio Neves (MG), que quer vetar a participação de integrantes de seu partido em eventual governo Temer.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se ontem com Dilma. Pela primeira vez desde que teve a nomeação suspensa para a Casa Civil, há mais de um mês, Lula foi ao Palácio do Planalto. À noite, ele jantou com ela e ministros no Palácio da Alvorada.

Apesar de manterem o discurso oficial de que é possível virar o jogo do impeachment, senadores do PT e de partidos da base aliada do governo dão como certa a aprovação do afastamento de Dilma na primeira votação, no plenário do Senado, prevista agora para 15 de maio. Se este cenário for confirmado, a presidente será obrigada a se afastar por até 180 dias.

Pelo cronograma traçado em gabinetes do Palácio do Planalto, o envio da proposta de emenda constitucional (PEC) ao Congresso, convocando eleições presidenciais em outubro – mês do primeiro turno das disputas pelas Prefeituras – ocorreria justamente nesse período, após a provável posse de Temer. A proposta pode ser apresentada por um deputado do PT ou do PC do B e, para ser aprovada, precisa passar pela Câmara e pelo Senado.

“Vou lutar até que eleições diretas sejam realizadas, se eu for afastada do cargo, uma situação hipotética, que eu não acredito. Eu acredito que é desconfortável afastar uma pessoa inocente. Eu sou vítima de uma conspiração”, afirmou Dilma, em entrevista ao Wall Street Journal.

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Lula disse à presidente que, se ela for mesmo afastada, a chance de retornar ao Planalto é remota. Mesmo assim, a estratégia consiste em infernizar a vida de Temer no provável afastamento de Dilma, para expor as “fragilidades” do peemedebista e montar uma espécie de “governo paralelo”, em oposição ao novo ocupante do Palácio do Planalto.

A ordem é resistir até o julgamento final no Senado – que pode ocorrer em setembro – entremeando a defesa política com recursos ao Supremo Tribunal Federal. “Se Temer assumir, ele não dura três meses no cargo porque não aceitaremos isso. Haverá protestos em todo o País”, insistiu o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Nós não imaginamos que o PT queira exercitar a sua capacidade de fazer oposição fora da luta política convencional”, provocou o ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB), aliado de Temer.

De qualquer forma, o PT também já prepara uma narrativa para disputar a eleição presidencial de 2018. Embora seja alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e esteja na mira do Ministério Público, Lula ainda é o único nome do PT com potencial para concorrer à sucessão de Dilma.

Nas fileiras do partido há quem diga que, com a crise se agravando a cada dia, o impeachment da presidente pode representar a “salvação” de Lula. O raciocínio é que, se isso não ocorrer, ela continuará “sangrando” até 2018. Se sair antes, porém, o PT poderá usar o discurso do “golpe” e de que teve uma presidente “apeada do poder”. / COLABOROU TÂNIA MONTEIRO