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'Desafio é dialogar com a sociedade e acolher os arrependidos de votar em Bolsonaro', diz Guimarães

Para o coordenador do movimento 'Direitos Já!', Fernando Guimarães, é preciso ter humildade para acolher quem está arrependido de ter votado em Jair Bolsonaro para cada vez mais isolar as vozes do autoritarismo

Foto do author Adriana Ferraz
Foto do author Renato Vasconcelos
Por Adriana Ferraz e Renato Vasconcelos
Atualização:

Pioneiro na defesa da democracia após a eleição de Jair Bolsonaro, ainda em 2018, o movimento Direitos Já! vê agora nascer outros grupos dentro da sociedade civil com a mesma intenção de assegurar a manutenção do Estado de Direito em meio a uma escalada autoritária da retórica bolsonarista.

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Neste sábado, 6, a partir das 16h, o movimento realiza uma live com representantes de vários espectros políticos, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), com participação ainda do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). A mediação será de Fernando Guimarães, coordenador do grupo, que comemora o advento de novos manifestos em oposição ao governo Bolsonaro.

Nesta entrevista ao Estadão, Guimarães afirma que "o grande desafio é dialogar com a sociedade. Ciscar pra dentro, com humildade acolher quem está arrependido de ter acreditado no Bolsonaro, e cada vez mais isolar as vozes do autoritarismo." Leia os principais trechos:

O Direitos Já! foi criado há um ano e meio. De lá pra cá você percebe uma necessidade maior de lutar pela democracia?

O Direitos Já! Fórum pela Democracia surgiu em novembro de 2018 e foi lançado em setembro de 2019 em um ato no TUCA, que reuniu Dom Claudio Hummes, Noam Chomsky,lideranças de 16 partidos políticos e centenas de organizações da sociedade civil, entre elas a UNE, UBES, Centrais Sindicais, ABI, religiosos, movimento negro, indígena, feminista, LGBT e diversos artistas e intelectuais. Desde o primeiro momento já tínhamos a compreensão da urgência de defender a democracia da agenda anticivilizatória desse governo. O alinhamento de todos os campos democráticos em defesa do Estado Democrático de Direito é mais do que nunca um imperativo histórico.

O sociólogo Fernando Guimarães, coordenador do 'Direitos Já' Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O que propõe o grupo? E como as ações são realizadas? Encontros, agora lives?

O Direitos Já! é um movimento de resistência e resposta aos permanentes ataques que são desferidos aos valores fundamentais expressos na Constituição Brasileira. Atuamos em duas frentes, uma menos visível, mas absolutamente fundamental, que é a ação de bastidor. Temos um conselho político com a participação de lideranças dos mais diversos partidos e um fórum de organizações da sociedade civil, que são poderosos instrumentos para estreitar os diálogos, construir convergências e influenciar respostas orgânicas e institucionais. Já a parte visível da nossa ação, além de manifestos, debates e lives, é a realização de grandes atos públicos. O nosso lançamento em São Paulo foi seguramente o mais amplo e significativo ato dos últimos 30 anos. Em função da pandemia, tivemos que suspender o ato que se realizaria em São Luís no dia 30 de março e a nossa programação em outras capitais. Nesse mês de junho, temos duas datas muito significativas, dia 6, às 16h, faremos uma live com o presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia; o ex-presidente  Fernando Henrique Cardoso; e o ex-presidente do STF Nelson Jobim; além dos governadores Flávio Dino e Camilo Santana. E, no dia 26, às 19h, faremos outra live com cem das mais representativas lideranças da política e da sociedade.

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O fato de reunir representantes da direita, esquerda e centro aproxima o grupo do movimentos das Diretas Já? É por isso a semelhança no nome?

Sem dúvida. O momento é extremamente delicado e exige demonstrações de responsabilidade histórica. Não é hora de olharmos para o retrovisor, remoer diferenças ou fazer cálculos eleitorais. Precisamos unir todos os democratas em seus gestos de grandeza no firme propósito de salvaguardar a democracia, afinal, é justamente ela e somente ela que pode assegurar a liberdade para as disputas dos distintos projetos de sociedade. Temos obtido muito sucesso nessa permanente construção. Nos últimos dias promovemos colóquios com economistas dos mais diversos partidos e participação de importantes setores da sociedade, alcançamos importantes consensos e vamos em breve apresentar ao Congresso Nacional uma importante contribuição de saídas econômicas para a crise e proteção social. A defesa da democracia passa por assegurar a vida e a dignidade das pessoas.

O sociólogo Fernando Guimarães, coordenador do 'Direitos Já!'. Foto: Reprodução/ Facebook/ Direitos Já!

Na avaliação dos integrantes do grupo, a democracia corre perigo hoje no Brasil? De que forma a sociedade deve se mobilizar contra avanços autoritários?

A democracia vem sendo minada a cada dia por esse governo, cujo líder exercita a sua forte vocação autoritária. Seu projeto é o enfrentamento permanente das instituições republicanas, dos limites constitucionais do exercício da Presidência da República, do desmonte de todos os avanços democráticos e civilizatórios conquistados pela sociedade. Estamos certos que, se não fosse a pandemia,  o povo estaria aos milhões tomando as ruas em defesa da democracia e em reação ao descaso com que Bolsonaro tem tratado as dezenas de milhares de mortes, que tomam essa proporção pela sua necropolitica. A sociedade deve estar permanentemente mobilizada e articulada na resistência. Precisamos agir com firmeza e muita sabedoria. É preciso fortalecer respostas orgânicas, defender e apoiar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal nos seus sistemas de freios e contrapesos sempre que o poder executivo ultrapassar seus limites.

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De que forma esses outros grupos que estão surgindo podem ajudar nessa defesa da democracia? A tendência é que todos se tornem uma coisa só?

Todos os movimentos que surgirem em defesa da democracia são muito bem-vindos. Esperamos contar com a participação de todos eles no nosso grande ato dia 26. Cada um tem as suas características e não há razão para que se tornem uma coisa só. O fundamental é que todos tenhamos um processo permanente de diálogo para avaliarmos as consequências de cada ato ou iniciativa. O momento é perigoso e não permite erros. Não podemos nos permitir agir por impulso. A pior coisa que pode ocorrer nessa hora é uma gincana de proativismo em busca de curtidas e popularidade nas redes sociais. Cada movimento dos que orquestram esse projeto autoritário busca uma determinada reação do campo democrático. Não devemos morder a isca nem jogar no campo deles. O nosso grande desafio é dialogar com a sociedade. Ciscar pra dentro, com humildade acolher quem está arrependido de ter acreditado no Bolsonaro, e cada vez mais isolar as vozes do autoritarismo.

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