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Deputados sofrem para se destacar em disputas locais

Dos 80 parlamentares que tentam se eleger prefeito ou vice em suas cidades, apenas 11 são favoritos no domingo, segundo pesquisas

Por Caio Junqueira
Atualização:

BRASÍLIA - Deputados federais que disputam o cargo de prefeito ou vice-prefeito nas eleições deste ano têm enfrentado dificuldades em suas bases eleitorais. Levantamento feito pelo Estado com base nas últimas pesquisas de intenção de voto realizadas pelo Ibope apontam que apenas 11 integrantes da Câmara são favoritos no próximo domingo, considerando sondagens feitas com 50 dos 80 parlamentares que são candidatos.  A preferência do eleitorado por temas locais em vez dos nacionais, a força de máquinas administrativas municipais e estaduais, a maior taxa de conhecimento e a presença maior nos últimos dois anos dos adversários nas cidades são apontados pelos “deputados-candidatos” como os principais motivos para o cenário desfavorável.  Com 13% das intenções de voto em Goiânia, segundo pesquisa Ibope divulgada em 16 de setembro, o deputado Delegado Waldir (PR-GO) está entre os parlamentares que hoje estariam fora de um eventual segundo turno. O líder nas pesquisas é o ex-governador, ex-prefeito, ex-senador e ex-ministro Íris Rezende (PMDB), que aos 83 anos tenta retomar o mandato para o qual foi eleito em 2004. Ele tem 36% da intenções de voto e é seguido por Vanderlan Cardoso (PSB), que tem 27% e é apoiado pelo governador Marconi Perillo (PSDB).  “Enfrentar a máquina, seja do Estado ou da prefeitura, é muito difícil. Elas operam antes e durante as campanhas”, diz Delegado Waldir. Segundo ele, no momento em que Marconi avalizou a candidatura de Vanderlan, vários partidos o apoiaram para formar uma coligação com onze legendas. “As máquinas trazem os partidos para as campanhas e atuam durante as campanhas.” Temas nacionais. Outro fator apontado por Delegado Waldir é a falta de interesse do eleitor com temas que movimentaram a política nacional nos últimos meses. Na sua avaliação, os votos favoráveis que deu ao impeachment de Dilma Rousseff e à cassação de Eduardo Cunha ficam em segundo plano. “Minha bandeira é o combate à corrupção. Tenho usado isso na campanha. Mas o eleitor quer resolver o problema da rua dele.” Para o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), terceiro lugar no Recife com 13% das intenções de voto, as questões nacionais pegam um pequeno segmento do eleitorado. “O impeachment é um tema relevante para um segmento do eleitorado apenas, a classe média. Mas não para a população que depende de serviço público. Quem precisa de boa escola e saúde públicas e saneamento na sua rua tem outras prioridades,” diz. No Recife, o prefeito Geraldo Julio (PSB) lidera com 37%, seguido do ex-prefeito João Paulo (PT) com 27%, segundo a pesquisa Ibope divulgada em 14 de setembro. 

Campanha. Daniel Coelho (PSDB) é candidato em Recife Foto: Marlon Costa/Futura Press

Conhecimento. Em sétimo lugar em Belo Horizonte, Rodrigo Pacheco (PMDB) tenta sair dos 3% sem tocar em temas nacionais. Ele também proferiu votos anti-Dilma e anti-Cunha na Câmara, mas diz não explorar isso na campanha. “Se me perguntam como votei, falo. Mas não tenho levado isso para a campanha. Não acho necessário”, afirma. Segundo ele, a campanha na capital mineira tem favorecido candidatos conhecidos do eleitorado. Caso do ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil (PHS), que está no segundo lugar com 22%, e do ex-goleiro do Atlético Mineiro João Leite (PSDB), com 33%, “o candidato do Aécio Neves”, presidente do PSDB. “É uma campanha que favorece quem é conhecido. Sou um novato e isso traz dificuldades”.  A persistir essa tendência, as eleições municipais podem ter o mais baixo índice de eleição de deputados dos últimos anos. A maior taxa ocorreu em 1996, quando 41 dos 117 candidatos (35%) foram eleitos. Nas disputas seguintes, o índice não passou dos 30%. Antonio Augusto de Queiroz, analista do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), prevê que dos 80 deputados que são candidatos, no máximo 15 serão eleitos, algo em torno de 18,7%. “Deputados federais costumavam disputar eleições municipais para oxigenar o mandato, mas o desgaste crescente da classe política na atual legislatura, com a Operação Lava Jato e a cassação de Eduardo Cunha, faz com que um mandato possa mais atrapalhar do que ajudar”, afirma.