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Deputado tucano diz que entrega de cargos mostraria que PSDB está fora de acordão

Daniel Coelho, um dos líderes dos chamados 'cabeças pretas', foi um dos votos vencidos na decisão do partido de permanecer no governo Temer

Por Renan Truffi
Atualização:
O deputado federal Daniel Coelho (PSDB-PE) Foto: LUIS MACEDO/AGÊNCIA CÂMARA

BRASÍLIA - Reconhecido como um dos líderes dos chamados "cabeças pretas", ala mais jovem do PSDB na Câmara dos Deputados, o deputado Daniel Coelho (PE) garante que as vozes críticas à aliança com o governo continuam no partido. Coelho foi um dos votos vencidos na decisão de anteontem, da executiva nacional, na qual os tucanos referendaram a permanência no governo Michel Temer. Em entrevista ao Broadcast Político, o parlamentar declara que a decisão "deixa dúvidas" sobre eventual participação do PSDB em um grande acordo político nacional contra o avanço das investigações da Operação Lava Jato no País.

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"Eu acho que essa não é a hora de deixar dúvidas. É hora de deixar as instituições funcionarem", disse. Para ele, só há como mostrar que o partido está fora de um acordão político para barrar a Lava Jato “se estiver fora dos cargos (do governo)” e apoiando a agenda de reformas. “Um afastamento do governo daria moral para o PSDB.”

Daniel Coelho afirmou também que a posição do PSDB de permanecer no primeiro escalão de Temer o iguala ao PT, no que diz respeito ao discurso sobre combate à corrupção. "[A decisão] é péssima para o partido, que cai na vala comum, vai para a mesma posição do PT", enfatiza.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o senhor avalia a decisão do PSDB de permanecer no governo?

A decisão é errada porque parte de um pressuposto equivocado. Pensa numa possível aliança com o PMDB em 2018, quando, na verdade, o PSDB deveria fazer uma aliança com a sociedade. O PSDB nasceu pela vontade de pessoas como [Mario] Covas, como Franco Montoro. Eu me lembro que a frase de fundação era: 'longe das benesses, próximo do pulsar das ruas'. Essa mensagem deveria ter sido renovada: longe das benesses, longe do governo e conectado com o pulsar das ruas. Para isso a gente não precisaria entrar numa oposição radical, nem ficar contra as reformas que ajudam a economia no Brasil, mas deixar muito claro que não estamos fazendo parte desse acordo, desse modelo político que, evidentemente, é o mesmo acordo e o mesmo modelo político feito pelo PT e que fracassou. Essa decisão desconecta o PSDB desse pulsar das ruas e da sociedade. Todo o trabalho da gente (cabeças pretas) é para reconectar o PSDB a essa sua origem de partido mais preocupado em aliança com a sociedade.

Na sua opinião, por que o partido tomou essa decisão? Muitos dos cabeças pretas falam em pressão dos ministros tucanos...

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Acho que há uma diferença de opiniões e de leituras distintas do mesmo processo. Eu não demonizo posições diferentes da minha, nem vou dizer que ela tem menos virtudes. Mas, para mim, esse caminho de permanecer no governo é ruim para o País porque vamos render um governo que não vai fazer nada, vai passar um ano apenas buscando se defender. E é péssimo para o partido, que cai na vala comum, vai para a mesma posição do PT. O PSDB foi muito duro no combate à corrupção do governo do PT, mas parece agora fechar os olhos para atos muito parecidos que estão ocorrendo dentro do governo do PMDB. Começamos a ter uma posição seletiva parecida com a posição do PT, do próprio PMDB e de partidos menores, como Rede Sustentabilidade e PSOL, que também são muito duros com a corrupção do PMDB, mas que chamam Dilma Rousseff de mulher honesta. Essas posições seletivas se esgotaram, a sociedade não aguenta mais. Não dá mais para apontar o dedo para o vizinho e deixar de se olhar no espelho. Por isso, esse nosso esforço de trazer o PSDB para uma posição de vanguarda, de mostrar, como exemplo, que é possível apoiar medidas de um governo sem precisar de cargos. O PSDB tem a oportunidade de dar o exemplo. Como é que nós queremos mudar as coisas com o mesmo formato?

O senhor acredita que o PSDB está perdido em relação à sua posição no espectro político brasileiro?

O PSDB está com dificuldade de se encontrar, ao sair da oposição e participar um governo que não é seu. O PSDB nasceu ao sair de um governo do Sarney e aparecer como alternativa para intelectuais e a classe média. O PSDB nasce dessa conexão e dessa independência. Essa coisa da origem do PSDB é essencial para a nossa credibilidade. Como mostrar hoje para a população que há uma acordão da política, mas que nosso acordo é com a sociedade? A gente só pode mostrar isso se a gente estiver fora dos cargos e apoiando a agenda (de reformas). Aí a gente mostra que o nosso compromisso é com o País e não com esse arrumado que está sendo feito para manter o governo Temer e, consequentemente, uma aliança de políticos para 2018. Eu não acredito nessa aliança.

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O senhor está dizendo que há um grande acordo político contra o combate à corrupção e o PSDB perdeu a oportunidade de mostrar que está fora disso?

Você só mostra que está fora do acordo com suas atitudes. Nesse momento, a participação no governo não comprova que você está fazendo um acordo, mas coloca em dúvida. E eu acho que essa não é a hora de deixar dúvidas. É hora de deixar as instituições funcionarem, mostrar que as coisas realmente precisam ser esclarecidas. Nem todo mundo que está sendo acusado é culpado, que fique claro. Isso serve para o PMDB, PSDB, PT ou de qualquer partido. Não nos cabe fazer o julgamento de todo mundo. Mas o julgamento precisa ocorrer no Brasil. A gente não pode passar por esse momento sem que as pessoas sejam julgadas. Estamos numa onda de acusações e precisamos ter oportunidade de saber quem está certo e quem está errado. Eu apoio a Lava Jato, as investigações, mas alguns falam de abusos. Até para a política ter moral para falar de abusos, ela precisa também tomar suas atitudes. Um afastamento do governo daria moral para o PSDB para, onde houver abusos, o partido falar desses abusos.