Delator detalha caixa 2 a Cabral e Pezão

Paulo Roberto Costa afirma ter arrecadado R$ 30 milhões para a campanha à reeleição de peemedebistas ao governo do Rio em 2010

PUBLICIDADE

Por MURILO RODRIGUES ALVES E LUCIANA NUNES LEAL
Atualização:

Atualizado às 18h40

Rio -O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmou ter arrecadado R$ 30 milhões para "caixa 2" da campanha à reeleição de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB, ao governo do Rio em 2010. Pezão entrou como vice nessa disputa e foi eleito governador no ano passado. Cabral governou o Rio de 2007 a 2014. Os depoimentos foram tornados públicos após o ministro Teori Zavascki, na sexta-feira, retirar o segredo de Justiça do material. Na delação, Costa afirma que se encontrou com Cabral, Pezão e Regis Fichtner, ex-chefe da Casa Civil do Rio e braço direito do ex-governador, no primeiro semestre de 2010 para tratar de uma "ajuda" para a campanha à reeleição. Segundo Costa, Fichtner ficou responsável por coordenar a arrecadação.

O então governador Sérgio Cabral com o vice Pezão, no Rio Foto: Carlos Magno/Imprens RJ

PUBLICIDADE

O delator disse que procurou as empresas que atuavam na obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) para solicitar "doações" para o "caixa 2". O Consórcio Conpar - que reúne as empreiteiras OAS, Odebrecht e UTC - não participou da reunião, mas fez a maior "contribuição", de R$ 15 milhões. O restante foi dividido entre Skanska, Alusa e Techint. Segundo Costa, o dinheiro saiu do caixa das empresas e a operação do repasse teria ficado a cargo de Fichtner, mas ele não soube detalhar como isso ocorreu. "Cada empresa deu 'contribuição', no total de R$ 30 milhões. O Consórcio Compar 'pagou' R$ 15 milhões; o restante foi dividido entre as outras empresas, entre elas Skanska, Alusa e UTC", diz o resumo do termo de declaração 4 de Costa. Ele afirma que Cláudio Lima, representante da Skanska, era próximo do ex-deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado no processo do mensalão. O depoimento de Costa foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), foro dos governadores. Mesmo sem mandato, Cabral responderá a inquérito no mesmo caso. A Procuradoria-Geral da República vai encaminhar o pedido de inquérito até amanhã. Além de Pezão, Tião Viana (PT), governador do Acre, deve ser investigado. Ele e o doleiro Alberto Youssef acusam o petista de ter recebido R$ 300 mil do esquema.'Mentira'. Questionado sobre o caso, Pezão disse que Costa precisa provar a acusação. "É mentira, essa conversa não aconteceu. Eu não ouvi essa conversa. Ele (Costa) tem que provar o que diz. Se diz que pagou, tem que dizer onde foi, onde entregou o dinheiro. Se for essa a delação contra mim, me tranquiliza mais ainda", afirmou. "As pessoas dão mais valor a uma delação premiada do que à minha palavra." Pezão disse nunca ter ouvido falar das empresas Skanska e Alusa. "Não vou contratar advogado se não houve nenhuma notificação, nenhuma informação", afirmou Pezão. "Tenho tranquilidade de que não recebi nenhum recurso, não tive nenhuma ajuda de campanha, não pedi e não tive conversa nenhuma nem com o doutor Paulo Roberto Costa, nem com ninguém da Petrobrás para pedir ajuda de campanha." Cabral afirmou, em nota, que é "mentirosa" a afirmação do delator. "Essa reunião jamais aconteceu. Nunca solicitei ao delator apoio financeiro à minha reeleição ao governo do Estado do Rio", disse. "Todas as eleições que disputei tiveram suas prestações aprovadas pelas autoridades competentes. Reafirmo o meu repúdio e a minha indignação a essas mentiras." Fichtner afirmou que recebeu a informação "com enorme surpresa e indignação" e negou que tenha ocorrido a reunião citada por Costa. "Tenho convicção de que uma mínima apuração dos fatos pela Justiça irá resultar no restabelecimento da verdade." A Techint afirmou, em nota, que não manteve contato com nenhuma das pessoas e empresas mencionadas na delação. "A Techint E&C nunca realizou qualquer pagamento ilegal a políticos ou partidos", afirmou. As outras empresas não se pronunciaram até esta edição ser concluída.

Abaixo, a íntegra da nota da empresa:

"Em relação à reportagem divulgada pela imprensa nesta data, asseverando que, de acordo com o resumo do 61º termo de colaboração da delação premiada firmada por Paulo Roberto Costa, a Techint Engenharia e Construção estaria entre as empreiteiras que teriam pago propinas ao PT e ao PP durante as obras da Refinaria Abreu e Lima, a Techint E&C reitera que nunca realizou qualquer pagamento ilegal a políticos ou partidos."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.