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De 'faxina', gestão Dilma vira alvo da Lava Jato

Ex-ministros citados em investigações no STF são suspeitos de usar recursos de forma ilícita, obstruir a Justiça e se beneficiar de corrupção

Foto do author Julia Lindner
Por Luísa Martins , Julia Lindner e Brasília
Atualização:

Logo no primeiro ano do governo Dilma Rousseff, em 2011, a então presidente promoveu uma “faxina” na Esplanada, que derrubou sete ministros, seis deles sob suspeita de corrupção. Nem todos os casos, no entanto, chegaram ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ao deixar o cargo, neste ano, a gestão da petista estava na mira da Operação Lava Jato. 

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Em agosto, em meio ao processo de impeachment, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, autorizou a abertura de inquérito contra a então presidente afastada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dois ex-ministros de seu governo por tentativa de obstruir a Justiça. O caso é mantido sob sigilo no Supremo.

No governo da petista (2011-2016), a lista de ex-ministros citados em inquéritos no Supremo pode ser dividida em: os que são suspeitos de administrar recursos de maneira ilícita, os investigados por tentar obstruir a Justiça e os que podem ter sido beneficiados em esquemas de corrupção fora do governo.

O primeiro grupo inclui os ministros Antonio Palocci (Casa Civil/PT), Alfredo Nascimento (Transportes/PR), Edison Lobão (Minas e Energia/PMDB), Mario Negromonte (Cidades/PP) – todos da fase pré-Lava Jato – e Erenice Guerra (Casa Civil/PT). Do R$ 1,25 bilhão levantado pelo Estado nos casos no Supremo, o “campeão” de envolvimento em movimentações suspeitas é Nascimento, acusado de desviar R$ 760 milhões do ministério. O ex-ministro dos Transportes foi dispensado na “faxina”, à época bem recebida pela opinião pública.

Palocci deixou a Fazenda em 2006 após ter sido alvo de denúncias de tráfico de influência e corrupção. Voltou a ocupar um cargo na Esplanada na gestão Dilma. Saiu novamente depois de ser alvo de outras denúncias e foi preso no dia 26 do mês passado por suspeita de movimentar R$ 128 milhões em propina da empreiteira Odebrecht – parte teria sido destinada ao PT para cobrir despesas da campanha de Dilma de 2010.

Uma escolha temerária de Dilma foi Pedro Novais (PMDB-MA), nomeado para o Ministério do Turismo mesmo após acusações de desvio de dinheiro público enquanto exercia o cargo de deputado federal. Em junho de 2010, ele pagou a conta de um motel – R$ 2.156 – com recursos públicos. Mesmo assim, foi convidado por Dilma. Após oito meses de gestão, surgiram novas denúncias de uso irregular da verba parlamentar e, então, Novais foi exonerado.

Belo Monte. Uma das pessoas mais próximas da ex-presidente, Erenice Guerra é suspeita de intermediar contratos superfaturados da Usina de Belo Monte enquanto exercia o cargo de ministra-chefe da Casa Civil, entre abril e setembro de 2010. Em sua delação premiada, o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) afirmou que ela foi a principal beneficiada de um esquema que desviou R$ 45 milhões. Ela é investigada por Sérgio Moro, em Curitiba; o inquérito corre no STF por envolver integrantes da cúpula do PMDB no Senado.

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Há também o grupo dos investigados por tentativa de obstruir a Justiça, como os ex-ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Aloizio Mercadante (Educação). Ambos são alvo de processo sigiloso da Corte, com base em informações da delação de Delcídio. O senador cassado menciona um encontro de Cardozo com o então presidente do STF, Ricardo Lewandowski, para falar de mudanças no rumo da Lava Jato. Mercadante teria oferecido dinheiro para evitar acordo de colaboração.

A exemplo de Gleisi e Paulo Bernardo, outros ex-titulares têm registros de ilegalidades não relacionadas à gestão ministerial. Aguinaldo Ribeiro (Cidades) é investigado no inquérito-mãe da Lava Jato no STF por supostamente se beneficiar de propina mensal da Petrobrás paga ao seu partido, o PP. Outro caso é o de Fernando Bezerra (Integração Nacional), suspeito de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa durante o período em que foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. COLABORARAM BEATRIZ BULLA, IGOR GIANNASI e CLARISSA THOMÉ