Quando a oposição se diz disposta a iniciar um processo de impeachment apenas com os votos de maioria simples na Câmara é porque não se importa que a crise de governabilidade vire regra e os próximos presidentes tenham de manter a todo instante e custo o apoio de metade mais um dos deputados para não cair. Quando a Justiça Eleitoral registra o 35.º partido político é porque vão faltar paciência para o eleitor, dígitos para a urna eletrônica e verbas para o Fundo Partidário. Pode contar que o Congresso vai aprovar uma exceção à regra de austeridade fiscal. Quando aparece o enésimo testemunho de pagamento de propina a um poderoso, ele permanece no cargo como se nada houvesse ali, e 40 colegas ainda promovem uma festa das Arábias em sua homenagem, em regra é porque compartilham o segredo sobre algum tesouro. Quando um ministro do Supremo senta em cima de um processo só para atrasar o desfecho de julgamento no qual já foi derrotado é porque sabe que não há limites para quem usa sua toga. Quando a Câmara sabota o Senado e não aprecia os vetos presidenciais que evitam a implosão das contas públicas, só para forçar seu presidente a colocar em votação a última chance de ressuscitar o financiamento empresarial de campanhas, é porque a nova regra não serve aos deputados, pois cria concorrência. Quando um deputado vira-casaca endossa quem chama seu ex-partido de prostituta, e o partido faz de conta que não é com ele nem pede abertura de processo por falta de decoro contra o ex-correligionário, os comandantes da legenda dão a entender que isso se tornou uma regra. E que não podem punir o vira-casaca sem arriscarem-se a ele arguir exceção da verdade.