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Dallagnol compara denúncia contra Lula e situação de Temer: 'sistema político apodrecido'

'São manifestações do mesmo fenômeno', disse o procurador em entrevista à rádio CBN

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Por Elisa Clavery
Atualização:
O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol Foto: André Dusek/Estadão

Um dia após a Procuradoria da República, no Paraná, denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia, o procurador Deltan Dallagnol, um dos coordenadores da Lava Jato, comparou as denúncias do petista ao escândalo que envolveu o presidente Michel Temer (PMDB) após divulgação de gravação em conversa com o empresário da JBS, Joesley Batista. 

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"Tanto as denúncias contra o ex-presidente Lula quanto essas outra coisas que vieram à tona na semana passada sobre atual presidente são manifestações do mesmo fenômeno. Nós temos um sistema político apodrecido. Se não tratarmos a causa desse problema, nós continuaremos com esse problema. Vão mudar as lideranças, vão mudar os rostos, mas o problema vai continuar existindo", disse Dallagnol em entrevista à rádio CBN nesta terça-feira, 23.

O procurador também disse que "os novos acontecimentos nos estarrecem" e criticou o fato de os políticos irem a público apenas para negar o que fizeram.

"Ninguém vem a público para reconhecer os crimes e se afastar da vida pública, como em outros países. Todo mundo vem a público negar, negar, negar. A mensagem implícita é de desrespeito a todos nós, como se estivéssemos sendo feito de bobos", disse.

Sem citar diretamente o senador Aécio Neves (PSDB), o procurador comentou uma das gravações que vieram a público entre o tucano e o empresário da JBS e aproveitou para criticar o projeto de lei de abuso de autoridade que circula no Congresso. 

"A pessoa fala sobre as 10 medidas da corrupção, que é algo bom, mas fala num contexto que reclama delas e fala delas como um instrumento para passar outras duas propostas. Uma delas é a que ficou conhecida como anistia ao caixa 2, mas na verdade é um eufemismo para a anistia à corrupção, e como instrumento para passar uma lei de abuso de autoridade", disse o procurador, que criticou o projeto. "Embora a expressão seja bonita, a lei como foi proposta tem uma série de amarras às investigações."

Questionado pelo jornalista Mílton Jung, Dallagnol admite que se referia ao senador afastado. 

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O procurador cita a delação premiada de empresário da JBS, que fala que mais de 1800 políticos foram beneficiados pela empresa, e afirma que há um "sistema político apodrecido". Para Dallagnol, essa é uma oportunidade para aprovar reformas que dificultem a prática de corrupção.

"Pessoas vão ver nisso um cenário de terra arrasada, eu vejo um cenário de oportunidade para reconstrução", disse à rádio. "Se nós não tivéssemos esse diagnóstico tão claro na nossa frente seria muito difícil olharmos para reformas". 

Dallagnol avalia que, no Congresso, o foco são os acontecimentos recentes, mas diz que vê uma oportunidade de se pensar nessas reformas num futuro próximo. "Se não gostamos das pessoas que estão lá (no Congresso), em 2018 teremos uma oportunidade para colocar outras pessoas lá, que não estejam sendo investigadas e processadas por um crime", disse. "Precisamos fazer com que o crime de corrupção não compense no Brasil, precisamos mudar as leis para que elas sejam mais duras."