Brasília - No momento em que o presidente da CPI da Petrobrás, Hugo Motta (PMDB-PB), anunciava a indicação da multinacional Kroll para investigar crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, os membros da comissão foram surpreendidos com a chegada do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele foi ao plenário para dar explicações sobre o fato de seu nome ter aparecido nas investigações e também saiu em defesa do presidente da comissão.
Cunha disse que veio à comissão em virtude das informações de que seu nome estaria na lista dos envolvidos na Operação Lava Jato. "Este parlamentar faz questão e está à disposição para prestar esclarecimentos à CPI", disse o presidente, lembrando que sempre apoiou publicamente a criação da comissão. "CPI é o foro em que será debatido de verdade tudo o que está acontecendo", reforçou.
O presidente da Câmara entrou no plenário da comissão quando os ânimos estavam menos exaltados e Motta indicava a Kroll, uma das maiores empresas de auditoria e investigação mundial, que já atuou em casos como o processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, para colaborar com a CPI.
Do lado de fora, Cunha comentou o bate-boca e saiu em defesa de Motta. "É normal que haja embate político. Acho que todos têm de ter respeito. Xingamento é quebra de decoro", afirmou. "Todos os fatos, todas as decisões que estão sendo tomadas pelo presidente têm amparo regimental. A instância de recurso, que sou eu, concordo com as decisões dele porque, previamente, ele submeteu à consulta regimental, se era correto, e entendemos que a decisão dele estava correta. Não há nenhuma dúvida de que ele está fazendo o correto. Ele não faria nada que não fosse regimentalmente correto", disse Cunha. "Não há dúvida nenhuma que a decisão dele será mantida", afirmou.
Deputados do PT e do PSOL trocaram xingamentos e gritos com o presidente da CPI por discordarem da decisão monocrática de Motta de criar quatro sub-relatorias e escolher os nomes dos responsáveis por elas. Motta foi chamado de "coronel" e "moleque". Os petistas questionam a criação das sub-relatorias por entenderem que elas enfraquecem o trabalho do relator Luiz Sérgio (RJ), do PT.
"Essa CPI não é de faz de conta. É uma CPI feita buscando esclarecimento dos fatos dentro da sua ementa. Consequentemente, todos têm que respeitar essa CPI, a começar pelo próprio presidente da Casa, que sou eu", afirmou Cunha.
A primeira sub-relatoria vai investigar superfaturamento e gestão temerária na construção de refinarias no Brasil e ficará sob responsabilidade do deputado
Altineu Côrtes (PR-RJ); a segunda, a constituição de empresas subsidiárias e sociedades com o fim de praticar atos ilícitos, sob comando de Bruno Covas (PSDB-SP); a terceira, o superfaturamento e gestão temerária na construção e afretamento de navios de transporte, navios-plataforma e navios-sonda, sob responsabilidade de Arnaldo Faria de Sá (PP-SP); e a última vai apurar irregularidades na operação da companhia Sete Brasil e na venda de ativos da Petrobrás na África e será comandada por André Moura (PSC-SE).