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Crise e nova regra reduzem pesquisas

Institutos tradicionais preveem para este ano uma queda de 15% a 25% no faturamento em comparação às eleições municipais de 2012

Por Caio Junqueira e BRASÍLIA
Atualização:

A crise econômica e as mudanças nas regras eleitorais para as eleições deste ano já afetam o mercado de pesquisas eleitorais. O número de contratações dos institutos diminuiu e a expectativa é de que o faturamento seja pelo menos 30% inferior na comparação com as eleições municipais de 2012. No próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os dados revelam essa queda. Entre 1.º janeiro e 11 de agosto deste ano foram registradas 1.208 pesquisas, ante 1.816 no mesmo período em 2012, redução de 33,5%.

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Não há registro do número de pesquisas nas eleições anteriores. Em um dos principais institutos do País, o Ibope, a projeção é de diminuição entre 20% e 25% do faturamento na parte eleitoral neste ano.

“Vendo as mudanças das regras e o encurtamento da campanha, já imaginei, ao montar o planejamento, que teríamos 25% menos de faturamento em relação a 2012. A incógnita é se vai ser pior ainda do que isso”, disse Marcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência.

De acordo com ela, no mesmo período na eleição de 2012 havia mais projetos fechados e com mais rodadas de pesquisa. Agora, são menos projetos e as rodadas foram substituídas por pesquisas pontuais.

“Primeiro porque diminuiu o prazo da campanha. Segundo porque dificultou a arrecadação dos candidatos. Terceiro porque, independentemente disso, com a crise econômica a doação individual também fica mais difícil. Então já dá pra falar que vai ser menor (o faturamento)”, afirmou Marcia.

Outro grande instituto de pesquisa, o Datafolha, prevê uma redução em 15% nas contratações neste ano em relação a 2012. Mas informa que isto advém mais da crise econômica do que das mudanças na legislação, tendo em vista que não trabalha para campanhas.

Para o diretor de pesquisa do Datafolha, Alessandro Janoni, as campanhas neste ano terão perfil diferente. “O principal impacto desse cenário sobre a eleição é que não haverá espaço para o erro nas campanhas. Institutos trabalharão para levantar dados que minimizem ao máximo problemas de comunicação e estratégias de persuasão. Investimentos serão racionalizados com base nos resultados das pesquisas e direcionados na busca por efetividade. Tudo isso concentrado em um número reduzido de levantamentos.”

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Legislação. A arrecadação das campanhas se tornou mais difícil porque o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional a doação empresarial para as campanhas em 2015.

Já o tempo de campanha foi reduzido de 90 dias para 45 dias após a minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso.

Parlamentares também incluíram no texto a redução do horário eleitoral gratuito, chamado no jargão dos marqueteiros de “blocos de propaganda”, e a ampliação das inserções de 30 segundos ao longo da programação. Antes, eram veiculados em dois períodos diários de 30 minutos. Agora serão dois de 10 minutos em rádio e televisão. As inserções passarão de 30 minutos para 70 minutos por dia.

Essa mudança é considerada um fator a mais na contratação dos institutos. O motivo é que pesquisas qualitativas, que não têm fundamento estatístico e servem para levantar aspectos subjetivos sobre determinado assunto, costumam ser mais utilizadas para avaliar o efeito dos blocos no eleitorado. Por exemplo, se um programa eleitoral foi agressivo ou ameno com algum adversário. Por meio delas, os institutos cobram mais caro e, por consequência, faturam mais.

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Já as quantitativas são feitas por critérios estatísticos e apontam fatores como a percepção positiva ou negativa sobre algum programa e a intenção de voto em um candidato.

Como os blocos de propaganda serão reduzidos neste ano, há a avaliação de que as qualitativas tendem também a diminuir. “Houve redução do tempo do horário eleitoral gratuito e aumento no número de inserções. Isso muda a maneira como se fará a pesquisa para avaliar o impacto deles no eleitorado”, afirmou João Francisco Pereira de Meira, presidente do Vox Populi e vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). “As pesquisas qualitativas devem sofrer redução e, como são mais caras que as quantitativas, o faturamento tende a ser menor.

Internet. Meira menciona outro fator para a redução do faturamento: o aumento do número de pesquisas pela internet. “De 2012 para cá cresceram muito novos métodos de pesquisa, como as pesquisas pela internet. São precisas e baratas.”

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Alguns marqueteiros, contudo, resistem a esse modelo. Um deles, que comandará uma campanha em um grande cidade, disse que pesquisas pela internet são distorcidas, pois o universo pesquisado não corresponde ao perfil socioeconômico do brasileiro.

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