Cresce ódio ao jornalismo, diz ONG Repórteres sem Fronteiras

Segundo a organização, sentimento tem aumentado à medida que políticos eleitos fazem ataques públicos aos meios de comunicação

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O mundo passa por um momento de crescimento do ódio ao jornalismo e aos jornalistas, o que ameaça as democracias, diz a edição 2018 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, 25, pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), em sete eventos simultâneos pelo mundo, incluindo no Rio de Janeiro.

PUBLICIDADE

+ No dia internacional da liberdade de imprensa, ONG critica situação em diversos países

Segundo o diretor regional da organização para a América Latina, Emmanuel Colombié, a liberdade de imprensa funciona como um termômetro do vigor da democracia e o índice global vive seus piores momentos. Colombié destacou o crescimento do ódio aos jornalistas incentivado por líderes eleitos.

“Esse tipo de desqualificação é cada vez mais comum. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faz ataques públicos aos meios de comunicação, o que é péssimo por estimular outros países a tratar jornalistas da mesma maneira. Ele qualifica sistematicamente os repórteres de 'inimigos do povo', uma expressão usada por Joseph Stalin”, afirmou.

Brasil está na 103ª posição do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa Foto: A.M Ahad/AP Photo

Segundo o levantamento da ONG, a hostilidade de dirigentes políticos aos meios de comunicação está cada vez mais presente em países ditos democráticos. 

América Latina

Apesar da ligeira alta do índice regional de liberdade de imprensa na América Latina, Colombié destaca que o quadro geral segue “extremamente preocupante”. “A região segue marcada pela extrema violência e baixo índice de liberdade”.

Publicidade

+ Imprensa livre, mas sociedade respeitada

O levantamento aponta que a Costa Rica continua na melhor posição do ranking regional, o único país classificado com situação boa. Cuba continua no pior, o único país da região com situação grave, devido à proibição em lei da propriedade privada dos meios de comunicação.

“A Venezuela teve a queda mais acentuada na região, perdendo seis posições e ficando em 143º. Lá, foram tiradas as licenças de dezenas de rádios e televisões, além de ser escasso o papel necessário para os impressos". 

Brasil: 'situação dramática'

Em uma lista de 180 países, o Brasil passou da posição 103 para 102 este ano. O País é classificado pela ONG como tendo “um ambiente de trabalho cada vez mais instável”.

+ 14 jornalistas morreram em seis meses na América Latina, alerta SIP

“A ausência de um mecanismo nacional de proteção para os repórteres em perigo e o clima de impunidade - alimentado por uma corrupção onipresente - tornam a tarefa dos jornalistas mais difícil. Em um contexto de forte instabilidade política, a liberdade de informação está longe de ser uma prioridade para os poderes públicos”.

Publicidade

Para Colombié, a situação do país é “dramática”. Ele diz que há o envolvimento de autoridades em assassinatos de jornalistas e comunicadores no Brasil, além de ameaças e difamações públicas em redes sociais. Outra preocupação da RSF no país é com a cobertura de direitos humanos.

“O brutal assassinato da vereadora Marielle Franco levou os comunicadores populares das favelas a ficar em estado de alerta. A cobertura de manifestações segue um ambiente complicado pra atuar, os jornalistas sofrem com a violência policial e com a hostilidade de manifestantes.”

Em altaPolítica
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

A ONG demonstrou preocupação também com o cenário da grande concentração da propriedade de mídia no Brasil e com o período pré-eleitoral, quando, segundo a RSF, aumentam as censuras via ação judicial e a difamação de jornalistas, além da distribuição de informações falsas pela internet.

“O Congresso está discutindo leis para punir quem divulga notícias falsas, mas o projeto traz conceitos vagos que podem tender a aplicações arbitrárias. Isso é muito perigoso. Outro problema é a desinformação como estratégia de afogar o conteúdo jornalístico. Acreditamos na educação como forma de combater as notícias faltas, e não no endurecimento penal”. / AGÊNCIA BRASIL

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.