'CPI não é do governo', diz presidente da comissão

Presidente da CPI mista da Petrobrás rejeita tese de que comissão protege presidente Dilma Rousseff

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Por Isadora Peron e Ricardo Brito
Atualização:

BRASÍLIA - Presidente das duas CPIs que investigam o esquema de corrupção na Petrobrás, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) reconhece que o Congresso tem tido dificuldade para avançar na apuração, mas nega que esteja trabalhando - como acusa a oposição - a mando do governo para enterrar as comissões. Ele afirma que o nome da presidente Dilma Rousseff não deve ser alvo do relatório final da CPI mista, mesmo que ela tenha autorizado, quando comandava o Conselho de Administração da Petrobrás, a compra da refinaria de Pasadena (EUA), negócio que provocou prejuízo de US$ 792 milhões. Cotado para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), Vital diz que a proximidade com o governo não influenciaria sua atuação no órgão, mesmo que cuidasse de processos envolvendo a estatal.Por que a CPI da Petrobrás está sempre a reboque do que tem sido revelado pela Justiça?Esta CPI veio num momento em que os passos dados pela Justiça estão mais rápidos. O que aconteceu de novidade? A eficiência de um instituto novo, chamado colaboração premiada. Essa colaboração fez com que a velocidade desse processo fosse maior do que em outros. Estamos no esforço de acompanhar esse caminhar da Justiça, mas sem os meios que eles têm. O sr. tem sido acusado de impedir que os trabalhos da CPI Mista da Petrobrás avancem...Contra fatos não há argumentos. Eu tenho uma relação de muita parceira com os meus colegas. E já presidi quatro CPIs no Congresso. Eu fui presidente da CPI do Cachoeira, que é uma das CPIs mais estigmatizadas da história. De forma preconceituosa a imprensa falou que o relatório final da comissão tinha só uma lauda. O importante não é isso, mas sim que todo o nosso acervo foi enviado para a Justiça e, a partir disso, 17 operações do Ministério Público e da Polícia Federal foram feitas.Mas o sr. encerrou uma sessão da CPI recentemente sem que os requerimentos para ouvir nomes ligados ao PT fossem votados. Não fui eu quem encerrou a sessão, quem encerrou a sessão foi a ordem do dia. É um impedimento legal. Está no regimento. Não se registra um ato meu que não seja absolutamente de magistrado. Por que não se tentou convocar o lobista Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB na Petrobrás?Essa semana, se a ordem do dia não tivesse sido instalada, tenho certeza que íamos avançar em outras convocações. Essa convocação incomoda seu partido, o PMDB?Esse é um fato que eu desconheço. Eu desconheço o cidadão, mas conheço o PMDB. E eu nunca vi ou ouvi falar de relações dele com o PMDB.Fala-se de até 70 parlamentares envolvidos no esquema da Petrobrás. Qual vai ser o impacto no Congresso quando esses nomes forem revelados?Estamos vivendo um clima de intensa especulação por parte da mídia. Essas informações, muitas vezes, são meias verdades ou boatos. Não tivemos acesso à colaboração premiada, que, é preciso lembrar, por si só não é instrumento de prova.A presidente Dilma Rousseff, que autorizou a compra de Pasadena, pode ser alvo do relatório? Eu acredito que não. Até porque a atitude que ela tomou, de denunciar que o material que chegou às mãos dela estava falho, é uma atitude de quem não colocou para debaixo do tapete a investigação.A Lei das S. A. diz que a responsabilidade era do conselho.Essa discussão vai acontecer, necessariamente. Mas eu não tenho nem como conceber um juízo de valor. Eu vou esperar que a decisão seja do colegiado.O que o sr. acha de instalar uma nova CPI em 2015?Acho que isso poderá prosperar de acordo com os acontecimentos, mas é preciso esperar a conclusão do nosso trabalho.Se o PMDB indicar o sr. para a vaga no TCU, o sr. irá?É muito honroso, mas o PMDB não me indicou ainda e vai discutir isso internamente. Hoje vocês vão me ver muito mais focado nas atividades de parlamentar do que fazendo campanha.O sr. presidiu as duas CPIs. Isso o credencia para a função, já que no TCU o sr. vai herdar os processos relativos à estatal?Talvez, para mim, não fosse mais um assunto tecnicamente estranho. A diferença é essa, porque na CPI atuei como magistrado, e não como parte. O sr. não teme receber críticas por ser aliado do governo?Quando você sai daqui para lá, você muda. É como um indicado a ministro do Supremo Tribunal Federal receber crítica porque foi indicado pelo presidente A, B ou C.

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