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Contadora diz que documento ligando Valério a Ronan estava nas coisas de Youssef

Meire Poza trabalhava para o doleiro acusado de operar um esquema de lavagem de dinheiro

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Foto do author Andreza Matais
Por Andreza Matais e Fabio Fabrini
Atualização:

 A contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza, afirmou ao Estado que o contrato apreendido em seu escritório relacionando o operador do mensalão, Marcos Valério, ao empresário do ABC paulista Ronan Maria Pinto estava entre os pertences do doleiro. Poza trabalhava para o doleiro acusado de operar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões em quatro anos com ramificações na Petrobrás, no Ministério da Saúde e em partidos como PT, PP e SDD. "Foi um documento que estava junto com as coisas da GFD Investimentos (em nome do doleiro). Eu não sei dizer o que era aquilo. Estava lá no meio das coisas dele [Youssef]", afirmou. O Estado revelou que o contrato apreendido refere-se a um empréstimo de R$ 6 milhões entre a empresa 2 S Participações, de Valério, e a Remar Agenciamento e Assessoria que tinha como destinatário final a Expresso Nova Santo André Ltda, de Ronan Maria Pinto. Na capa do contrato esta escrito à mão "Enivaldo" e "confidencial". Enivaldo pode ser uma citação a Enivaldo Quadrado que trabalhava para Youssef e teve o nome envolvido no esquema do mensalão. A Remar era uma empresa de "apoio à educação" na época em que o contrato foi assinado, em outubro de 2004. Registrada em nome de Oswaldo Rodrigues Vieira Filho e da ex-mulher dele, Salua Sacca Vieira, a Remar tem capital de R$ 260 mil. O endereço da empresa informado à junta comercial do Rio de Janeiro é o mesmo onde funciona a desconhecida Associação dos Servidores Públicos Brasileiros, presidida por Oswaldo. Na prédio, contudo, ninguém conhece a Remar. Anos após o empréstimo, a Remar mudou sua atividade econômica e hoje é uma empresa de agenciamento e incrementação de negócios. Procurado pelo Estado, Oswaldo interrompeu a ligação após ser informado do que se tratava e não ligou de volta. O jornal também deixou vários recados na associação, sem retorno. Em depoimento ao Ministério Público em dezembro de 2012, revelado pelo Estado, Valério afirmou que dirigentes do PT pediram a ele R$ 6 milhões que seriam destinados ao empresário Ronan Maria Pinto. O dinheiro serviria, segundo Valério, para que o empresário parasse de chantagear o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o então secretário da Presidência, Gilberto Carvalho, e o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ronan tentava relacionar Lula, Carvalho e Dirceu a suspeitas de corrupção na cidade que teriam motivado o assassinato do prefeito Celso Daniel, em 2002 - a conclusão da polícia paulista é de que ele foi vítima de um crime comum, não político. Por meio da assessoria, Ronan Maria Pinto afirmou que a acusação de Valério já foi "publicamente desmentida". Sobre sua relação com a Remar, o empresário afirmou que a empresa "prestou assessoria financeira e tributária às suas empresas por um período de aproximadamente seis anos." O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), apresentou requerimento à CPI da Petrobrás no Congresso no qual pede a convocação de Guilherme Estrella, ex-diretor da Petrobrás, para tratar desse assunto. Na justificativa ele alega que Estrella teria sido o responsável por fechar na Petrobrás um acordo com a construtora Schahin "usado como esquema para pagamento de chantagem feito pelo empresário Ronan Maria Pinto." No depoimento ao MP, Valério afirma que o dinheiro para Ronan saiu do banco Schahin, vendido em 2011. Os documentos apreendidos no escritório do Youssef sugerem o caminho do dinheiro. Em nota, a construtora Schahin afirmou que "refuta de forma veemente qualquer conhecimento ou vínculo com o assunto "esquema para pagamento de chantagem feita pelo empresário Ronan Maria Pinto ao PT". Sobre os contratos com a petroleira na época em que Estrella era diretor, a empresa afirmou que "há mais de 20 anos mantém os mais diversos contratos com a Petrobrás, seja na área de engenharia, seja na área de petróleo e gás", mas que não poderia dar detalhes a respeito porque "todos os contratos contêm cláusulas de confidencialidade." O Estado não localizou Estrella. 

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